sábado, 9 de maio de 2009

" HOMENAGEM PARA AS MULHERES, MÃES OU NÃO"

Desejo expressar nestas linhas (não são poucas) que se seguem, minha singela homenagem às mulheres de todo o mundo, mães ou não, mulheres que, sem as quais, não teríamos vindo ao mundo. Minha mãe, minha esposa, minha filha, sua mãe, sua esposa, sua filha, sua sogra, minha sogra, amigas, colegas, todas... Que dom(ns) vocês possuem? Não é somente o dom de ser mãe, também não é somente ser mulher! Vejamos:
Que Mulheres Gostaria de destacar no livro do Gênesis, um texto que retrata a situação inferior da mulher na sociedade patriarcal. Ele conta a história de Hagar, uma mulher egípcia, escrava do patriarca Abraão e da matriarca Sara. Hagar viveu a situação comum das escravas do seu tempo. Era vítima de uma tríplice opressão pela sua condição de escrava, de estrangeira e de mulher. Esta história, esquecida durante muito tempo em nossas leituras bíblicas, era tão significativa para o povo bíblico que foi preservada na memória das tradições. Embora a história tenha acontecido cerca de 4000 anos atrás, ela não é estranha às mulheres empregadas domésticas de hoje. Veremos ao longo destas linhas como Deus acolhe o clamor da mulher oprimida; a Hagar de ontem e de hoje. O livro do Gênesis evoca a memória das origens do mundo e da humanidade, como vimos anteriormente. Javé se revela, desde o princípio, como o Deus da vida. Com o sopro carregado da força de sua própria vida, Deus cria o homem e a mulher “à sua imagem e semelhança”. Assim, no projeto original de Deus, mulher e o homem participam da mesma dignidade e possuem direitos iguais (todos têm dons). A sociedade judaica, porém, na qual se originaram a maioria dos textos bíblicos, era marcada pela ideologia patriarcal. Aí a mulher era considerada subalterna, (faltava-lhe o “dom” de ter nascido homem) vítima de inúmeras opressões que a tornavam inferior ao homem. Do ponto de vista sócio-jurídico, a mulher não tinha nenhum princípio de autonomia (tinha o dom da dependência). Não era sequer valorizada como pessoa por si própria. Seus direitos dependiam do homem. Entrava, assim, num círculo de dependência intrafamiliar do pai, marido, filho ou cunhado. Mais que pai ou esposo da mulher, o homem é o seu dono e proprietário em quase todos os aspectos (ele tem o dom da posse). A esterilidade, considerada uma maldição divina, é sempre atribuída à mulher, nunca ao homem. Sobre as mulheres pobres pesava ainda mais o jugo da opressão. Hagar era uma mulher pobre, estrangeira e escrava. Sabe-se que, naquela época, principalmente por três motivos a mulher podia tornar-se escrava: 1) Por ser vendida pelo pai ou marido, para saldar dívidas contraídas (Ex 21.7; Ne 5.2,5; Dt 15.12; 2) Em conseqüência da distribuição dos despojos de guerra (cf.Jz5.28-30); 3) Em caso de extrema pobreza, a mulher vendia-se própria como escrava para garantir a sobrevivência. Possivelmente este último foi o motivo que levou Hagar à condição de escrava. Em suma, a mulher era o “dom” de se fazer dinheiro e o “dom” para “resolver problemas”. Sara a mulher legal de Abraão, era estéril. Nesse caso, tornava-se legítima a relação sexual de Abraão com a escrava Hagar (não possuía o dom da escolha). A finalidade desta relação é garantir a descendência para a mulher legal e não para a escrava. É dentro deste contexto de marginalização e opressão que nasce a história de Hagar. O que fazer Hagar? Você é apenas uma escrava! Faltou-lhe o dom da liberdade. A história narrada por uma tradição, Gn 16.1-14, o conflito aparece quando Hagar, grávida (o dom de poder gerar filhos), torna-se “rebelde” contra Sara que é estéril (o dom da esterilidade). Os maus tratos de Sara levam-na a fugir para o deserto. Aí Hagar é surpreendida pela manifestação de um Deus solidário com sua dor. A resposta de Hagar é um testemunho que fala por si mesmo: “tu és El-Roi (Deus de visão, Deus que vê), pois aqui eu vi aquele que me vê”, Gn 16.13(Hagar é coroada com a manifestação de uma visão). Esta é uma bela proclamação de fé no deus fiel que escuta o clamor dos maltratados. Javé é o Deus que me vê, conhece e se solidariza com o sofrimento da mulher. Já em outra tradição, Gn 21.8-21, conta a mesma história, mas, já no início, mostra a superação da esterilidade de Sara por intervenção divina. A causa do conflito desloca-se, para os filhos: Isaque e Ismael. Certamente entra em jogo a questão da herança que o patriarca Abraão e a matriarca Sara não querem dividir com Ismael e Hagar, (“esse dom é só nosso”) Gn 21.10. A solução para o problema é a expulsão (o dom do paliativo). Levando consigo apenas um pedaço de pão e um pouco de água, Hagar e Ismael caminham pelo deserto de Berseba, sem nenhuma perspectiva de futuro, humanamente falando. Quando acabam o pão e a água, mãe e filho clamam, quase no desespero, porque não querem ver acabar a vida. E mais uma vez, de modo surpreendente, manifesta-se aquele Deus que ouve a aflição do oprimido. Abrem-se então os olhos de Hagar e ela vê aí mesmo, no deserto, uma fonte de água viva. Convidada a erguer-se, Hagar é capaz de erguer e reanimar a vida de seu filho. Que coisa Hagar! Você tem o dom da resistência. As duas tradições mostram um Deus sensível e terno que escuta a aflição e o choro quase desesperado de Hagar e de seu filho. O próprio nome “Ismael” significa “Deus ouviu”. No deserto, Javé mostra-lhes a água, símbolo de esperança e vida fecunda (o dom da esperança). Aí mesmo, na dureza do deserto, Hagar, a mulher pobre, escrava, estrangeira, fugitiva e expulsa, tem uma experiência única de Deus. Conforme os textos sagrados a teofania era privilégio reservado aos grandes líderes e profetas de Israel. Hagar, esse dom só pertencia aos homens...! Poderia me ater ao episódio ocorrido com outra mulher, a mãe de Moisés que diante do edito real de Faraó (para exterminar com todas as crianças nativas do sexo masculino), tão altruisticamente escondeu o menino num cesto de junco para preservá-lo com vida. Que dom foi aquele que Deus a deu que, de imediato diante daqueles funestos circunstantes falou mais alto em seu coração? Também me lembro de uma batalha descrita no livro dos Juízes. Batalha que deve ter acontecido por volta do ano 1150 a.C. A situação que reflete é a luta de algumas tribos de Israel que se unem para se defenderem da opressão das cidades estados de Canaã representada por pesados impostos. É interessante notar a tranqüilidade com que é atribuída à profetisa Débora a função de juíza. Interessante ainda é que Débora tinha o dom de ser casada, no entanto, nem por isso se deixa intimidar pelos afazeres domésticos. A ela cabe o papel principal nesta vitória que se consuma com a intervenção de outra heroína, Jael, também com o dom ser casada que nem israelita era (faltava-lhe o dom de ser “gente nossa”, mas possuía o dom da intervenção e o dom da iniciativa). A bravura e liderança de mulheres sempre existiram e existem na realidade. Basta abrir os olhos e ver o que está acontecendo hoje na caminhada da libertação. Na história, geralmente escrita por homens e num estilo muito machista, as mulheres aparecem pouca (o dom de manter-se no anonimato) Mesmo que ultimamente as mulheres estejam conquistando o seu devido e justo espaço na sociedade, ainda resta um longo caminho a percorrer. Quando Sísera está fugindo de Débora e Baraque, Jael lhe oferece refúgio em sua tenda (o dom da persuasão); ela lhe dá leite e o cobre com um manto. Depois de pedir que ela vigie à porta, ele adormece. Com isso, Jael pega uma estaca da tenda e um martelo e lhe crava a estaca no crânio (4.17-21). Depois da narrativa da vitória de algumas tribos de Israel sobre o exército de Jabin, rei de Canaã (Jz 4.2,4), o mesmo acontecimento é descrito, com vibrante entusiasmo, num cântico, num hino de louvor (Jz5); e quem canta? Foi uma mulher? Ah! Sim, foi Débora! Espere aí; Débora tinha o dom do louvor?Esse texto é considerado um dos mais antigos da Bíblia. É uma louvação que deve ter sido composta pouco depois do acontecimento e foi cantada pelo povo antes de ter sido gravada por escrito. Nela se sente o entusiasmo de quem testemunhou aquele prodigioso triunfo do povo que partiu para a luta, animado pela fé e confiança de uma heroína no poder de seu Deus. A causa principal do conflito parece ter sido de ordem econômica: os camponeses das tribos se rebelaram contra os impostos escorchantes cobrados pelos “reis” das cidades-estado e se recusaram a entregar-lhes o excedente de sua produção. Por isso, organizaram assaltos às caravanas que evitavam as rotas comerciais e procuravam atalhos (Jz 5.6). O papel de Débora que recebe o título de “mãe em Israel” foi decisivo. Dela partiu toda a iniciativa da mobilização popular (o dom da mobilização). Convenceu Baraque a arregimentar as forças de Israel, convocando voluntários e guerreiros das tribos. Conseguiram a adesão das tribos de Efraim, Benjamim, Maquir, Zebulon, Issacar e Naftali (Jz 5.7-15a). A valentia de Zebulon e Neftalí é ressaltada (Jz 5.18). A batalha é descrita em traços fortes e fulminantes. Contra Israel, levantam-se os reis de Canaã. Mas fracassaram porque não conseguiram dinheiro, isto é, não conseguiram impor a arrecadação de impostos (Jz 5.19). A colaboração de Deus, do Deus do Sinai (Jz 5.5), se manifestou através das forças da natureza, do céu e das águas, o que lembra os prodígios do Êxodo (Jz 5.4-5.20-21). As poderosas armas do inimigo, seus 900 carros de ferro e cavalos (Jz 4.3.13) foram reduzidos à impotência, arrastados pelas águas do Quison ou nelas atolados (Jz 5.21-22). Os habitantes de Meroz, que “não vieram em auxílio de Jeová” (o verdadeiro comandante das forças de Israel!) são censurados, talvez porque, embora não-israelitas, se recusaram a defender uma causa que lhes era comum (Jz 5.21). Em compensação, é exaltada a heroína não-israelita, Jael, cuja intrepidez coroou a vitória com a execução do chefe inimigo (Jz 5.24-27). Como já disse, a presença e ação das mulheres neste livro merecem especial atenção. Talvez seja bom acrescentar algumas observações gerais. Como toda moeda tem dois lados, da parte dos filisteus, nas histórias de Sansão, duas mulheres poderiam ser consideradas heroínas: a noiva Tamnita (Jz 14.1-20) e a famosa Dalila (Jz 16.4-20). Com efeito, usando a arma da sedução, elas procuraram livrar seu povo do verdadeiro flagelo, que era Sansão. Aparecem ainda outras mulheres: Acsa, filha de Calebe, mulher de Otoniel (Jz 1.12-15). A concubina de Gideão em Siquém, mãe de Abimeleque (Jz 8.31). A mulher que liquidou com Abimeleque (Jz 9.563). A filha de Jefté (Jz 11.34-40). A prostituta de Gaza (Jz 16.1-13). A mãe de Mica (Jz 21.12-14). As filhas de silo (21.19-23). Seria descabível dizer que cada uma dessas mulheres tinha o seu dom? A genealogia de Jesus que Mateus apresenta reconhece a importância da mulher na história da salvação (Mt 1.1-17). Na lista genealógica figura Tamar, a mulher que lutou por seus direitos (o dom da luta) Gn 38.1-30; Raabe, a prostituta que salva os israelitas (o dom da fé) Js 2.1-21; Rute a estrangeira que se torna amiga do povo, luta por seus direitos e apresenta o seu projeto de reconstrução do povo (o dom do empreendimento) Rt 1-4; Betsabé, a mulher de Urias, vítima do desejo de Davi, que veio a ser a mãe de Salomão (o dom da superação) (2Sm 11.1-27); Maria, através da qual os pobres da terra acolhem a libertação definitiva em Jesus (o dom de ser a mãe do salvador do mundo) Lc 1.26-38. Poderíamos seguir pelas páginas da Bíblia e encontraríamos ainda outros textos que revelam como Deus toma partido em favor da mulher oprimida. Assume sua causa e está do seu lado para libertá-la. Revela-se um Deus de compaixão e ternura que leva a sério a aflição da mulher e ouve o seu clamor. O ponto alto e decisivo desse posicionamento inconfundível de Deus, a favor da mulher encontramos no Novo Testamento, sobretudo na prática de Jesus. Por último, olhando para Hagar e Ismael, concluímos que Deus ouve o clamor da mulher oprimida e lhe oferece vida e libertação; olhando para Abraão e Sara, vemos que o projeto divino da salvação não é interrompido pelas falhas e fraquezas humanas; olhando para Débora e Jael, vemos com majestoso é Deus em conceder dons e usar mulheres quando estas se unem por um mesmo ideal; olhando para nós homens vemos com vergonhoso somos quando não reconhecemos nas mulheres a posição e destaque que Deus as deu, muito mais, a posição que elas merecem. Mulheres, mães, avante, olhem atrás, porém para frente, utilizem-se dos DONS, que lhes foram dados pelo Senhor dos Dons. Os DONS, também são de vocês!

Um comentário:

  1. Muito bom o senhor ter ressaltado nossa importancia pastor, mas fica ainda a dúvida do nosso não reconhecimento por parte de Paulo qdo escreve a carta a igreja de corinto. Queria saber porque ele põe a mulher numa posição tão subalterna quando escreve a carta a essa igreja, não lhes dando direito nem ao menos de falarem na igreja.

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