quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pastores e Seu Espelho

O Pastor e seu espelho

Por Jaime Kemp

"Quando se perde as riquezas, nada se perdeu; quando se perde a saúde, houve alguma perda; porém, quando se perde o caráter, tudo está perdido"

Penso que posso afirmar sem margem de erro, que em todas as reuniões congressos, clínicas, etc. em que estive presente com meus colegas pastores, o tema integridade sempre surgiu como questão a ser analisada. Alguém sempre utiliza como ilustração as dificuldades de quem passou por um deslize moral.

A igreja brasileira padece terrivelmente sob a influência nefasta da escassez de integridade, seja a nível moral, no abuso do poder pastoral, enquanto líder agindo inadequadamente, ou na vertiginosa e constante queda dos relacionamentos familiares a liderança. A decadência assustadora da integridade, em especial entre os líderes masculinos, tem implicações desastrosas na sobrevivência de nossa credibilidade diante de um mundo crítico e observador. Porém, o mais chocante é que há pouquíssima diferença entre a prática ética dos religiosos e a dos não religiosos – ou simplificando – alguns líderes de igrejas evangélicas não diferem muito de empresários alheios ao Reino de Deus.

Certamente, é impossível generalizar. Há muitos servos fiéis que não permitem ver sua crença religiosa e / ou ética arranhada, prejudicada ou abalada por tentações enganosas e transitórias.

Existem diversas causas dessa situação de crise na igreja, entretanto, destacarei uma, que a meu ver, é fundamental. Por natureza somos desonestos e mentirosos contumazes. Nosso coração é mau, como bem coloca o profeta Jeremias: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas e desesperadamente corrupto..." (Jr 17.9). Nós pastores, então, sofremos a tentação de mascarar as mentiras espiritualizando-as, sofisticando nosso pecado para ninguém suspeitar de nosso erro.

O apóstolo Paulo escreveu o seguinte sobre a depravação humana: "A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca eles a têm cheia de maldição e de amargura..."(Rm 3.13,14).

Não necessitamos ser instruídos na arte da desonestidade. Mesmo após sermos regenerados pela ação do Espírito Santo, se não nos submetermos ao senhorio de Cristo, voltaremos a viver uma vida de engano e mentiras, semelhantes a suínos que depois de limpos sempre voltam ao lamaçal. A liderança evangélica vem sendo envolvida pelas sutilezas da cultura e da mídia. Pouco a pouco ela tem se distanciado dos valores verdadeiros e eternos. Alguns líderes trafegam na ilusão e não percebem a falta de integridade em suas vidas.

Tal ocorreu com Ananias e Safira. Ambos eram membros da primeira igreja formada no mundo durante o Império Romano e é possível que tivessem ali algum cargo de liderança. Tentando levar vantagem (filosofia danosa que atravessou séculos e persiste ainda hoje suscitando uma competitividade desonesta) venderam uma propriedade e de comum acordo resolveram enganar os irmãos fingindo ofertar toda quantia da venda para quando, na verdade, haviam guardado para si determinada parte. O interessante neste relato é que, ao que tudo indica, eles não julgaram sua atitude errada, pouco íntegra, mas se acharam generosos!

A história de Ananias e Safira nos impacta porque ambos foram duramente castigados por causa de uma pequena infração. Em um momento de fraqueza não escaparam da ganância e da hipocrisia. Mas apenas isso pede tamanha punição? Suponho que se Deus nos tratasse, na igreja de hoje, da mesma forma como agiu com ambos, precisaríamos de uma área descomunal ao lado das igrejas para enormes cemitérios!

Com certeza, Deus considera hipocrisia e falta de integridade como algo seríssimo no Corpo de Cristo. A igreja não pode prosperar decepcionando-se em relação a atitude de seus membros e muito menos da liderança. Durante a formação da Igreja Primitiva, o Senhor desejou demonstrar a importância que Ele dá à integridade e honestidade. A decepção fere o Corpo de Cristo e é um pecado contra Deus. Por isso, por ocasião da morte de Ananias e Safira, Pedro afirmou: "Não mentistes aos homens, mas a Deus" (At 5.4)

A igreja necessita de homens que não apenas abandonem a mentira mas que também sejam livres da hipocrisia. O apóstolo observa que a honestidade é essencial para o crescimento de uma igreja: "Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo" (Ef 4.15). A medicina divina para uma igreja autêntica é que ela fale e aja dentro da verdade de uns para com os outros em amor.

A grande necessidade de integridade na igreja está ligada às necessidades de um mundo perdido que anseia ser liberto da desonestidade e corrupção. Enquanto essa corrupção é cultivada e promovida, há no fundo do coração do povo um desejo intenso de escapar desses sentimentos falsos, enganosos e frustrantes. A igreja se tornará sal e luz à medida que estampar uma vida autêntica que é uma das mais eficientes ferramentas de evangelização. Todos nós conhecemos muitas pessoas que foram atraídas a Cristo pelo exemplo de vida integra de alguém salvo por Jesus.

Queridos colegas pastores, precisamos nos posicionar ao lado de Jó quando ele diz: "Longe de mim que eu vos dê razão, até que eu expire, nunca afastarei de mim a minha integridade." (Jó 27.5)

2 comentários:

  1. Olá pr. Gostaria que o meu pastor lesse essa msg.
    Q. Deus abençoe o sr.

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  2. Com muito temor leio este post. Que os pastores sintam o tamanho de suas responsabilidades ao professarem o evangelho de Jesus Cristo e, ao empunharem a Palavra de Deus.

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