sábado, 2 de janeiro de 2010

2 Coríntios – “ Eu de boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” - Final

O conteúdo da 2 carta, foi discutido até certo ponto. Esta epístola difere de 1 aos Coríntios por tratar de assuntos pessoais mais do que de ensinamentos doutrinários ou de problemas de ordem eclesiástica. Paulo, o homem, está muito em destaque nesta epístola. Patenteiam-se perante os leitores os seus sentimentos do que mesmo 1 aos Coríntios. A sua estrutura também não é tão nítida como a da primeira epístola.

2 aos Coríntios permite que mergulhemos o olhar na carreira de Paulo, de uma maneira que não é possível em qualquer das suas outras epístolas. Foi escrita para se defender, não só contra as críticas ocasionais da igreja de Corinto, mas também contra as calúnias e acusações que os seus inimigos lhe dirigiam onde quer que pregassem. A controvérsia que começara na Galácia, dera origem a um poderoso grupo de oponentes judaizantes que recorriam, sem escrúpulos, a quaisquer métodos, bons ou maus, para o desacreditar. Paulo tinha não só de lutar contra a inércia espiritual e contra os males do paganismo tradicional, mas também de enfrentar a malevolência ativa de dirigentes invejosos e cheios de preconceitos, que se intitulavam cristãos.

Eram numerosas as acusações feitas pelos seus oponentes. Acusavam-no de andar "segundo a carne" (10.2). Diziam que era covarde, pois escrevia cartas que reboavam como um trovão enquanto que, em pessoa, era tão autoritário como um rato (10.10). Não defendia a sua dignidade aceitando o apoio das igrejas, antes se rebaixava trabalhando (11.7). Invocavam o fato dele não ser um dos apóstolos originais, destituído, portanto de condições para ensinar (11.5;12.11,12) e de não ter credenciais para apresentar (3.1). Atacavam o seu caráter pessoal dizendo que era carnal (10.2), jactancioso (10.8,15) e enganador (12.16), e insinuavam que gastava em proveito próprio o dinheiro que lhe era confiado (8.20-23).

Os acusadores eram, ao que parece, judeus (11.22), "ministros de Cristo" (11.23), que servindo-se habilmente de recomendações de outras igrejas (3.1), tinham logrado entrar nas igrejas paulinas. Sem dúvida que eram responsáveis por parte do cisma ocorrido em Corinto. Eram altivos e imperiosos (11.19,20), mas não estavam prontos a fazer trabalho de pioneiro nem a sofrer por Cristo (11.23 ss). Em suma, eram "falsos irmãos".

Este quadro, cujos traços se inferem da linguagem de Paulo, mostra que as igrejas da era apostólica tinham suas lutas e os seus pecados. A maravilha é, não que fossem imperfeitas, mas sim que tivessem sobrevivido. Só um dinamismo divino poderia dar vitalidade duradoura a um grupo tão fraco e tão sensual como o que constituía a igreja de Corinto.

O ensino positivo da epístola torna-a uma das de maior valor no Novo Testamento. São passagens de relevo o quadro que nos dá do ministério e das perspectivas para além da morte (cap 5), e o seu ensino sobre a generosidade (caps. 8 e 9).

A última visita a Corinto

A chegada de Tito à Macedônia com a notícia tranqüilizadora de uma modificação na atitude da igreja de Corinto (2 Co 7.6-16) permitiu que Paulo prosseguisse sem temor a sua viagem. Lucas diz simplesmente que o apóstolo passou três meses na Acaia, mas não dá pormenores. Na Primavera de 56 d.C. fez planos para voltar para Jerusalém com donativos, quando soube que os seus inimigos judeus tinham preparado uma conjura contra a sua vida (AT 20.3). Percebendo que facilmente se desembaraçariam dele a bordo de um navio, enviou os seus companheiros para Trôade enquanto ele, na companhia de Lucas, se dirigiu para o norte, para Filipos, por terra, navegando Trôade logo depois de terminada a Festa dos Pães Asmos, que se sucedia imediatamente à Páscoa.

A forma como a seção pluralista reaparece neste ponto em Atos 20.5,6, indica que Lucas tinha andado a viajar com Paulo na Acaia. Uma tradição antiga sugere que talvez Lucas se identifique com "o irmão cujo louvor no Evangelho está espalhado em todas as igrejas; e... foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem nesta graça que por nós é ministrada" (2 Co 8.18,19). Não se menciona qualquer nome, e este anônimo poderia ser qualquer dos companheiros de Paulo referidos em Atos 20.4. Por outro lado, pode-se traduzir como pronome possessivo o artigo definido quando usado com expressões que denotem membros de uma família. Se Tito e Lucas eram irmãos, a velha ligação de ambos com Antioquia e o silêncio acerca deles no livro de Atos seriam mais facilmente explicáveis.

Seja como for, nesta altura Lucas era um auxiliar ativo de Paulo na campanha através da Macedônia e da Acaia, tornando-se o companheiro mais íntimo do apóstolo durante os anos de cárcere que se seguiram.

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