terça-feira, 6 de outubro de 2009

Como é que Deus Permitiu que Jefté Oferecesse sua Filha em Holocausto?

De:

Gisele

Para:

marques_joao2004@yahoo.com.br

Pastor em Jz 11.30-31 Jefté faz um voto ao Senhor e acabou que teve de cumprir o voto oferendo a própria filha em holocausto v.39.

Esse cumprimento do voto de Jefté foi aceito pelo Senhor?

Antes de sair para a batalha contra os filhos de Amon, Jefté fez um voto ao Senhor, através do qual ele ofereceria a Deus, em holocausto, quem primeiro da porta de sua casa lhe saísse ao encontro, caso o Senhor lhe concedesse vitória sobre seus inimigos. Quando Jefté retornou, a primeira pessoa que saiu ao seu encontro foi sua filha. Ele recusou-se a não honrar o voto que havia feito.

A Bíblia, no entanto, diz com clareza que o sacrifício humano é uma abominação ao Senhor ( Lv 18.21; 20.2; Dt 12.31; 18.10). Como é que Deus poderia permitir que Jefté oferecesse sua filha, e ainda relacionou-o ente os campeões da fé em Hebreus 11.32?

Muitos têm entendido que Jefté ofereceu a vida de sua filha ao Senhor dada a natureza inviolável de um voto feito a Deus (Ec 5.2-6). E mais, observam que um holocausto envolve o sacrifício de uma vida, e justificam esse procedimento tendo por base que um voto a Deus tem precedência sobre tudo o mais, até mesmo sobre a vida humana (gn 22). Deus é Soberano sobre a vida e a toma quando quer (Dt 32.39), como finalmente o faz (Hb 9.27).

Entretanto, por diversas razões, não é necessário admitir que Jefté tenha oferecido um sacrifício de morte. Primeiro, ele tinha consciência da lei contra o sacrifício humano, e ser essa fosse sua intenção quando fez o voto, um sacrifício humano, ele saberia que isso teria sido uma clamorosa rejeição da lei de Deus.

Em segundo lugar, o texto não diz ter ele realmente matado sua filha como holocausto. Isto é apenas inferido por alguns porque ele tinha prometido que quem quer que primeiro saísse de sua casa seria oferecido ao Senhor "em holocausto" (11.31). Como Paulo mostrou, os seres humanos devem ser oferecidos a Deus como um "sacrifício vivo"(Rm 12.1), e não como sacrifício de mortos.

É possível que Jefté tenha oferecido sua filha ao Senhor como um sacrifício vivo. Por todo o resto de sua vida ela serviria ao Senhor na casa do Senhor e permaneceria virgem. Notemos que a palavra traduzida por holocausto no versículo "31" não traz necessariamente a idéia de um sacrifício queimado. O sentido literal é "o que sobe", e a "subida" pela qual Salomão ia à casa de Jeová (1Rs 10.5) é escrita com a mesma palavra.

Terceiro, um sacrifício vivo de perpétua virgindade era um sacrifício tremendo no contexto judaico daqueles dias. Fazendo alguém voto de perpétua castidade, e sendo dedicada ao serviço do Senhor, ela não poderia jamais ter filhos e assim dar continuidade à linhagem familiar de seu pai. Jefté agiu com muita honra e grande fé no Senhor, não voltando atrás em relação ao voto que ele havia feito ao Senhor seu Deus.

Quarto, este modo de ver a questão apóia-se no fato de que quando a filha de Jefté saiu para chorar por dois meses, ela não saiu para lastimar a sua morte iminente. Não, ela saiu e "chorou a sua virgindade" (v.38). Como jefté não tinha outros filhos, sua filha não se lamentou acerca de sua virgindade por causa de nenhum desejo sexual ilícito.

Quinto, embora possa ser julgado segundo os padrões atuais, Jefté não foi criado de acordo com tais padrões. Ele era gileadita, e os não-israelitas da região naquela época seguiam, Camos, cujo o culto incluía o sacrifício de crianças como holocausto (2Reis 3.27). De acordo com nosso entendimento da revelação progressiva.

Deus toma as pessoas no ponto em que estão e os conduz para um conhecimento mais completo de sua pessoa e vontade. É difícil para nós entender como Jefté podia cultuar Javé – e mais, ser um libertador levantado por Javé – e ainda praticar o que mais tarde seria descrito como "abominação". Javé não lhe havia pedido que fizesse tal voto, nem voto algum, de acordo com o relato bíblico. Aquilo foi um ato impulsivo da parte de Jefté, feito com boas intenções. O fato significativo é que apesar de os israelitas passarem mais tarde a considerar abominável para Javé o sacrifício de crianças, não removeram essa história de suas Escrituras Sagradas. É possível extrair-lhe lições a partir de erros cometidos com a melhor das intenções.

Nesse dilema por certo ele não teria agradado a Deus com um sacrifício humano, o que, em parte alguma das Escrituras, conta com a aprovação divina. De fato, esse foi um dos pecados grosseiros por cuja causa os cananeus deveriam ser exterminados. Por outro lado, como poderia ele agradar a Deus se não cumprisse seu voto?

Embora os votos fossem feitos voluntariamente em Israel, uma vez que uma pessoa fizesse um voto ficava obrigado a dar-lhe cumprimento (vj Nm 6.1-210. O que fica claramente implícito em Jz 11 é que Jefté cumpriu seu voto (vj v.39). Mas a maneira pela qual ele o fez tem sido sujeitada a várias interpretações.

Que os líderes não se moldavam à religião pura, nos dias dos juízes, é patente no registro bíblico. Jefté, que tinha um passado meio cananeu, pode ter-se conformado aos costumes pagãos prevalentes, ao sacrificar realmente sua própria filha. Visto que os montes eram considerados símbolos de fertilidade pelos cananeus, sua filha se retirou para as montanhas, a fim de lamentar sua virgindade, para evitar qualquer possível rompimento na fertilidade da terra. Periodicamente, a cada ano, donzelas israelitas passavam quatro dias a reinterpretar o lamento da jovem sacrificada.

Quanto ao voto de Jefté, parece mesmo ter havido pressa e fracasso nele, mas categoricamente não há idéia de sacrifício humano, como muitos têm imaginado. A maioria dos comentadores recentes concorda nisto, e crê que a filha de jefté foi simplesmente dedicada a Deus para viver uma vida de solteira, como os versículos (37 e 39) demonstram. Não há nenhuma palavra de morte a seu respeito.

Finalmente, se ela tivesse de enfrentar a morte ao fim dos dois meses teria sido muito simples para ela casar-se com alguém e viver com essa pessoa durante os dois meses que antecederiam sua morte. Não havia razão para a filha de Jefté lastimar pela sua virgindade, a menos que estivesse com a perspectiva de viver toda uma vida nessa condição.

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