quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entendo a Monarquia, Saul e Chamado de Davi – Parte 1

O Período de Transição - Samuel e Saul

Com a [pressão da oposição filistéia] exigiu-se uma nova tática de Israel. A ameaça das comunidades filistéias altamente organizadas só poderia ser combatida com as mesmas armas: Israel precisava de um rei.

Fazer como as outras nações

O povo quer ter reis fortes e com exércitos, como as outras nações. Mas Samuel entendia que a justificativa poderia ser justa, em parte, pois o que mesmo entraria em xeque era o monoteísmo. As outras nações tinham reis fortes, deuses, ídolos, muitos escravos e muita miséria. Sustentar a nobreza de um rei seria submeter-se e submeter os filhos aos seus direitos. O rei era também um semideus que exigia tudo o que havia de melhor para ele. O profeta, mesmo inconformado, aceita a proposta do povo, mas esclarece quais seriam os direitos o rei.

Fazer como as outras nações implicava:

  • Introduzir um sistema tributário para sustentar a "máfia" do poder.
  • Recrutar jovens, dos campos e da cidade para o serviço militar e a guarda do rei e de seus bens.
  • A centralização do poder.
  • O povo não mais participa das decisões, mas é coagido a obedecer.
  • A gratuidade e a solidariedade do sistema dos juízes dá lugar à maldade e perfídia de uma política interesseira.
  • A cada ano, cada filho que nascia ou cada casamento que acontecia na corte, a caravana de parasitas aumentava, e o povo tinha seus deveres aumentados (impostos) e seus direitos diminuídos

Como era de se esperar, a requisição dos anciãos israelitas, pedindo um rei, foi recebida com reações contraditórias. Algumas passagens parecem contrárias à idéia (8.1-22;10.17-19;12.1-25), outras, favoráveis (9.1-10.16;10.20-11.15). Uma explicação afirma que dois documentos com atitudes contrastantes com respeito ao reinado teriam sido combinados por um editor que não procurou atenuar as aparentes contradições.

A monarquia era necessária para a sobrevivência de Israel, mas, como qualquer ponto crítico na história da nação, implicava grande risco. Como Israel, à semelhança de seus vizinhos, poderia ter um rei (8.5) sem a perda da liberdade inerente a tal centralização (v.10-18)? A antiga ordem estava obviamente ultrapassada, mas que traria uma nova ordem? [Essas e outras perguntas perturbavam Samuel e outros defensores] da tradição israelita com respeito à aliança.

Segundo Lasor, as tendências absolutas das antigas monarquias orientais estão amplamente documentadas. Diz ainda que podemos ver como seus padrões ameaçavam tanto a tradição israelita de liberdade pessoal como a convicção de que Javé era o verdadeiro rei. Como se atesta nos Salmos, a tradição israelita de reino sagrado (em oposição ao reino secular) não elevou o rei à condição divina, conforme costumavam fazer seus vizinhos. Antes, viam-no como um representante de Deus, com o encargo de reforçar (e encarnar) a aliança. Longe de ser um ditador, ele era, pelo menos idealmente, um servo de seu povo. Nos livros de Samuel está refletido de modo preciso tanto a necessidade da monarquia como seus perigos. O fato de Deus usar a monarquia como parte da preparação para o Rei dos Reis valida a monarquia em Israel. O fato de a grande maioria dos reis de Israel falhar no cumprimento da função que lhes foi ordenada testemunha os perigos intrínsecos da monarquia. O padrão realmente bem sucedido de governo para Israel era um equilíbrio dedicado – nem teocracia nem monarquia, mas teocracia por meio da monarquia. Para Israel ser povo de Deus, Deus precisava ser reconhecido como o verdadeiro governante. Entretanto, Deus podia governar por meio de um rei humano. No meio dessa tensão, Saul seguiu para liderança das tribos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário