quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Entendo a Monarquia, Saul e o Chamado de Davi - Parte 7

Pecado na Família Real - O Abuso do Poder

Davi e sua outra faceta é demonstrada num episódio que merece nossa apreciação. As imperfeições de caráter, de qualquer membro da família real, não são minimizadas nas Escrituras hebraicas. Um rei de Israel que caiu em pecado não poderia mesmo esperar escapar do juízo de Deus. Ao mesmo tempo como pecador verdadeiramente penitente, que reconheceu sai iniqüidade qualificou-se assim como homem que agradava a Deus.

Davi torna-se polígamo (2Sm 3.2-5 e 11.27). Embora isso seja definidamente proibido na revelação mais completa do Novo Testamento, foi tolerado nos tempos vetero-testamentário por causa da dureza de coração do povo israelita. Era livremente praticado pelas nações circunvizinhas.

Um harém na corte era algo perfeitamente natural. Embora advertido acerca da multiplicidade de esposas na lei mosaica (Dt 17.17), Davi adquiriu muitas delas. Alguns desses casamentos sem dúvida alguma tiveram implicações políticas, tal como seu matrimônio com Mical, filha de Saul, e com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur. Tal como sucedeu com outros, Davi teve de sofrer as conseqüências, como os crimes de incesto, homicídio e rebeldia, que passara a suceder na sua vida doméstica.

O pecado de adultério e homicídio, praticado por Davi, constituiu um autêntico crime, do ponto de vista humano. O rei, cuja obrigação principal era cumprir os termos da aliança e assegurar justiça em todos os níveis da sociedade, havia ele próprio violado de maneira grosseira a aliança.

Empregara seu poder para fins cruéis. Davi desmoronou diante da justa acusação do severo profeta. Embora Davi não tivesse de prestar contas a quem quer que fosse em seu reino, ele deixou de perceber que esse "crime perfeito" era conhecido por Deus. No caso de um déspota de nação pagã, adultério e homicídio teriam passado sem reprimenda; porém, isso não poderia ocorrer em Israel, onde seu rei ocupava tal posição como uma incumbência sagrada. Natã declarou ousadamente que Davi era o indivíduo culpado de adultério e assassinato. Felizmente, para Natã, o rei se arrependeu.

A misericórdia de Deus era sua única esperança; e embora seu pecado tenha provocado efeitos terríveis como a morte da criança de Bate-Seba (12.15-19) e o enfraquecimento das fibras morais dos filhos de Davi, essa misericórdia o poupou. A notável honestidade do Antigo Testamento é aqui manifesta, pois não se faz nenhuma tentativa de esconder ou desculpar os lapsos morais patentes do grande rei.

As crises espirituais de Davi achavam exaltada expressão em poemas (Sl 32; 51). Foi-lhe propiciado o perdão, mas deveras graves foram as conseqüências domésticas que lhe sobrevieram (2Sm 12.11).

Conflitos na Coroa

A imoralidade e o homicídio, no seio da família não demoraram a envolver Davi na guerra civil e na contenda. Custaram caro para a moral dos soldados arregimentados em Israel. Eles eram obrigados a portar armas por períodos longos, junto com o exército particular de Davi, formado por mercenários.

Na própria corte, aumentavam as intrigas e a conivência – especialmente entre as esposas de Davi – quando se levantava a questão de sua sucessão. A falta de disciplina e de autocontrole de Davi deixaram um exemplo negativo para seus filhos. O comportamento imoral de Amom com sua meia-irmã resultou em seu assassinato por parte de Absalão, um outro filho de Davi.

Naturalmente, Absalão incorreu no desfavor de seu pai. Como resultado, ele sentiu ser expediente deixar Jerusalém, refugiando-se com Talmai, seu avô, em Gesur, terra natal de sua mãe. Ali ele permaneceu por três anos.

Joabe, uma figura política poderosa, como homem de confiança do rei, procurava a reconciliação entre pai e filho. Conseguiu a aprovação do rei para trazer Absalão de volta a Jerusalém, e por dois anos o jovem ficou impossibilitado de dirigir-se à corte do pai.

Absalão – Um rebelde rebelado

A graça e a beleza pessoal de Absalão contrapunham-se a um oportunismo irresponsável. Ele instigou descontentamento entre os litigantes junto ao portão, dizendo que julgaria em favor deles, caso assumisse a responsabilidade dos negócios de Israel. Esse encanto e malícia fizeram dele uma ameaça séria à segurança de Davi (13.15.1-6). A conspiração dissimulada tornou-se rebelião aberta quando Absalão proclamou-se rei em Hebrom ( 13.7-12). O abuso do poder cometido por Davi foi superado com vantagem por Absalão

Davi reuniu seu grupo fiel de mercenários filisteus e fugiu para Jerusalém. O quadro do rei batido subindo o monte das Oliveiras com pés descalços, cabeça coberta, em lamento e faces molhadas de lágrimas é o mais tocante do antigo Testamento.

Particularmente triste para Davi foi o relato de que seu sábio conselheiro e amigo, Aitofel, juntara-se aos rebeldes (15.30s.;16.15-23). Uma das poucas luzes era a lealdade de Husai (Usai), a quem Davi comissionou para ficar em Jerusalém a fim de espionar Absalão. Husai conseguiu frustar o conselho de Aitofel que recomendou perseguição imediata de Davi. Aitofel ficou tão abatido que suicidou-se.

Depois de consolidar suas forças na Transjordânia, Davi, provavelmente acompanhado de grupos de cidadãos fiéis, enviou três exércitos para combater Absalão. Eles esmagaram de forma decisiva as tropas rebeldes. Absalão foi morto por Joabe, contra as ordens do pai dele. O general sabia que seria impossível obter paz enquanto Absalão vivesse.

Tendo sido removido Absalão, o povo novamente se voltou para Davi, em busca de liderança. A tribo de Judá, que dera apoio ao filho rebelde de Davi foi o último grupo a dar as boas vindas, depois que ele fez uma apressada concessão, substituindo Joabe por Amasa.

Durante praticamente uma década do reinado de Davi as solenes palavras proferidas por Natã se cumpriram realisticamente. Começando pela imoralidade de Amnom, e prosseguindo até a supressão da rebelião de Seba, o mal foi fomentado na própria casa de Davi. A lembrança desta profecia foi muito importante na história do povo de Israel.

A promessa da estabilidade do trono de Davi "para sempre" vai gerar a esperança de que um descendente de Davi será o Messias, o restaurador de Israel. O "davidismo" é uma corrente que atravessa os diversos períodos da história de Israel e vai desembocar no Novo Testamento, no qual Jesus é identificado com "filho de Davi".

Um dos projetos favoritos de Davi, durante os últimos anos de sua vida, foi providenciar os preparativos para a construção do templo. Planos elaborados e arranjos detalhados foram cuidadosamente traçados, na aquisição de material de construção. O reino foi bem organizado, para que se fizesse emprego eficiente do labor local e estrangeiro. Davi chegou a esboçar os detalhes da adoração religiosa, na estrutura planejada.

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