terça-feira, 23 de junho de 2009

" A PROFECIA VALE MAIS DO QUE OS PLANOS DO REI"

Dando continuação a postagem iniciada no mês de maio sobre o tema acima,haja vista as dúvidas surgidas, sobretudo várias perguntas enviadas pelos internautas, abaixo, escrevo um pouco mais, não com o obejtivo de liquidar o assunto, porém, esclarecendo pequenas minudências.

A profecia surge como crítica ao poder do rei (1 Sm 12.1-25)

Profecia versus Monarquia. Durante os 200 anos do tempo dos Juízes (+ ou - 1200-1030 a.C.), os problemas do povo de Israel foram enfrentados sem a presença de um rei, sem necessidade de uma administração central e um exército permanente. Heróis e heroínas tribais, suscitados (as) por Deus, mobilizaram o povo e repeliram os ataques dos inimigos. O sistema monárquico foi recusado por Gideão, que alegou, como motivo, que só Deus era o rei de Israel (Jz 8.23). Abimeleque não passou de uma deformada caricatura de rei (Jz 9).

                 

Nesta época também não encontramos profetas nem profetisas. Moisés e Josué são considerados grandes profetas, mas são de tipo diferente. Ele são, antes de tudo, as grande colunas da história dos filhos de Israel: Moisés esteve à frente da libertação do Egito; Josué comandou a ocupação  da terra prometida.

Samuel, o último juiz, pode ser considerado também o primeiro profeta, título que lhe é conferido pela própria Bíblia (1Sm 3.20; cf. 1Sm 9.11). Desde o início, já é apresentado numa moldura diferente, como se pode ver na narrativa de seu nascimento ((1Sm 1.20-28) e da sua vocação (1Sm 3). Liderou o povo por muitos anos. Quando envelheceu, o povo ficou preocupado com o processo sucessório, porque os dois filhos de Samuel eram corruptos, e, através dos anciãos, pediu um rei (1Sm 8.3-5). A veia profética de Samuel levou-o a resistir quanto pôde (1Sm 8.7-18). Acabou cedendo e a contragosto ungiu Saul, apontado por Deus como um juiz libertador contra os amonitas (1Sm 9.16-17).

Saul era um eficiente chefe militar. Percebeu que o exército popular de voluntários não tinha condições de enfrentar as treinadas e bem     equipadas tropas dos filisteus. Aceitou ser rei (1Sm 11.15) e decidiu manter tropas em quartéis e guarnições (1Sm 13.2), contrariando um dos princípios básicos do sistema tribal: não ter exército permanente (cf. Jz 7.1-8).

Quando Saul venceu os amalequitas, não obedeceu à regra das guerras tribais: a guerra santa (Js7). Em vez de fazer guerra de defesa, realizou uma campanha de conquista, buscando enriquecer através de saques e pilhagens. Samuel enfrentou o rei diante de todo o povo. Condenou sua atitude como traição à Aliança e não reconheceu mais sua autoridade de rei (cf. 1Sm 15.10-35). Nesse momento, tornou-se a voz da profecia.

Podemos dizer que profecia e monarquia nascem juntas e caminham lado a lado. Reis e profetas são figuras complementares, mas contrastantes. Quando sobrevier o domínio dos impérios estrangeiros, não haverá mais reis em Israel. Também não encontraremos mais profetas. Nessa época, o povo resgatará e organizará sua memória na Escritura. Serão chamados de profetas aqueles que, em defesa do povo e em nome do Deus da Aliança, se erguerem contra os reis no tempo da monarquia.

A história do povo de Israel, na época dos reis, é a história de um conflito. A origem desse conflito está no modelo de sociedade defendido, de um lado, pela política dos reis e, do outro lado, pelo movimento profético.

A política dos reis defendeu as cidades, o comércio, a especulação, a venda de terras, o culto centralizado em templos régios; uma política de impostos, taxas, favorecimento do negócios, exércitos fortes  e escravidão.

 

O movimento profético defendeu o povo, as aldeias, a roça a propriedade familiar da terra, os pequenos santuários, o culto familiar, o trabalho livre, em nome do Deus libertador, que ouve o clamor dos oprimidos.

Foi uma luta dura e difícil para os profetas e profetisas. Ocorreram perseguições e mortes. Tudo por fidelidade a Deus, que exige justiça, partilha e igualdade. A profecia luta pela PAZ: a presença de Deus no meio do povo fiel (Is 26.12). Só haveria paz se houvesse fidelidade à Aliança. A profecia surge como a consciência crítica do povo e sua luta se resume nisto: fidelidade à Aliança em busca da paz que vem do alto (Lv 26.3-13).

 

2 comentários:

  1. Que saudade tenho dos profetas e profetisa daquela época. Por que não aprendemos com eles?
    Nas igrejas, hoje, o profeta cedeu seu lugar para a diplomacia. Que vergonha!

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  2. Penso que o bom senso, que vem acompanhado do equilíbrio, é e sempre será o meio termo para tudo nesta vida. Inclusive para os profetas, os quais, muitas vezes, empolgam-se e esquecem-se de dar lugaro ao Espírito, este sim, que o conduz à verdadeira e santa profecia.
    Sei (e conheço) que ainda há verdadeiros profetas aqui na Terra, graças a Deus!

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