sábado, 20 de junho de 2009

"ESTER : O PODER A SERVIÇO DA JUSTIÇA " - Parte 4

Saudade, o rei?

O rei fica triste, sente saudades e um rei causa problemas. Resolve-se fazer então, um recrutamento de jovens “solteiras e bonitas” em todas as províncias para renovar o harém do rei, satisfazendo seus prazeres. A jovem que ele mais gostar poderá se tornar rainha e sua esposa, o que consertaria o trono e o coração do rei. Surge então um decreto. É digno de nota que os problemas dos ricos e poderosos sempre são resolvidos com ordens e decretos. Sua vontade se transforma em lei. Mesmo que o decreto viole o círculo familiar, o que importa e  satisfazer seus caprichos. As moças não são livres, mas escravas; não são pessoas, mas objetos, coisas.

A memória dos pobres que resiste  2.5-7

 

O narrador introduz Ester, a moça judia que morava em Susa com seu primo Mardoqueu. A presença deles ali sugere  a larga extensão da diáspora judaica um século depois da queda de Jerusalém e, como já se enfatizou, o fato de a maioria dos judeus permanecerem na terra do exílio mesmo após a autorização do retorno para Jerusalém. A influência da cultura babilônica é vista nos nomes desses dois personagens.

Para os judeus o nome é sagrado. Nele está o significado, a história e o sentido da vida da pessoa. Mas os dois têm nomes estrangeiros, blasfemos para um judeu. Mardoqueu = Marduk  e Ester = Ishtar, respectivamente, deus  deusa da Babilônia. Isso mostra que os judeus muitas vezes tiveram de assumir nomes estrangeiros. Com efeito, o nome hebraico de Ester é Hadassa. Que significa “mirto”. Talvez os judeus conservassem o nome de origem, mesmo quando assumiam nomes estrangeiros.

O nome Ester também soa muito interessante, caso o interpretemos como os rabinos da Idade Media, que p entendiam a partir da raiz hebraica STR, que significa “esconder”. O nome Ester significaria, portanto, “a escondida”, ou “a que esconde”. Dessa forma, Ester personificaria a situação dos judeus exilados, que precisam esconder sua raça, história, cultura e religião. Apesar de tudo, porém, continuam fiéis à própria identidade, ainda que mantida no escondimento. Outro significado muito provável, ao menos segundo o texto hebraico do livro, é o fato de Deus não ser mencionado, mas sempre agir por baixo do pano “escondido’. Assim, por meio de Ester, “a que esconde”, Deus estaria agindo de forma escondida, libertando e salvando o seu povo. Ester seria sacramento da ação de Deus.

E os judeus são solidários. Ester é órfão de pai e mãe, e foi adotada como filha por Mardoqueu, seu primo. São os pobres que se entreajudam, solidariamente. Não têm nada, mas sabem repartir tudo, e perseveram na própria identidade e fraternidade, Dessa forma, a única riqueza de Ester é a sua beleza e o carinho de Mardoqueu. Ambas as coisa terão papel importante no livro. Mas desde já podemos perguntar : Qual é a beleza do povo de Deus?

A proeminência de Mardoqueu na corte persa atesta que os judeus poderiam assumir altos  cargos no governo e na sociedade. Não se deve apoiar neste fato, entretanto, pois Mardoqueu orientou Ester a esconder sua identidade judaica, sendo bem provável que tinha feito o mesmo. Talvez isto explique por que ambos adotaram nomes pagãos para si.

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