segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Porque é necessário "História"?

O internauta Luiz Marcolino me escreve:

Pr porque é necessario contar a história a respeito da Bíblia?

Meu amado Irmão, veja se me faço entender:

Memória do passado, fonte de identidade.

Quando você pergunta a alguém: “quem é você?” Ele responde: “ Eu sou fulano de tal, nasci em tal lugar, estou aqui por causa disto ou daquilo”. Para dizer quem é, ele conta a história de sua vida. Assim fazia o povo de Deus. Para dizer quem era, contou a sua história (cf. Dt 26.5-10; Js 24.2-13). E contou sempre os mesmos fatos, pois os fatos não mudaram. O que mudou foi a maneira de contá-los.

Quando você está bem, conta a sua história de um jeito. Quando está na fossa, conta-a de outro jeito. Foi o que aconteceu com o povo de Deus. Contou sempre os mesmos fatos: Criação, Abraão, Moisés, Êxodo, Josué, Juízes, Samuel, Reis... Contou-os de maneira nova, conforme as exigências da situação nova em que se encontrava.

A Bíblia nasceu dessa preocupação do povo de Deus de nunca esquecer o seu passado, de não perder, a sua identidade. Nasceu da necessidade de contar o passado para dizer aos filhos quem eram e o que eles deviam ser (cf. Dt 6.20-25). A memória atualizada do passado ajudou-os a se situar no presente e a encontrar o caminho do futuro. A pior coisa que pode acontecer a alguém é a perda da memória. Pior do que uma pessoa perder a memória é um povo perder a sua memória.

A experiência que mais marcou a identidade do povo de Deus foi a libertação do Egito e a nova organização das tribos no tempo dos juízes. Em cada período da história, sobretudo em períodos de crise, essa experiência do Êxodo e do tempo dos juízes acordou na memória dos profetas e serviu de critério para julgar os desvios dos reis. Também ajudou o povo a fazer uma revisão da caminhada.

No passado, tanto das pessoas como das comunidades e dos povos, existem coisas e fatos que preferimos ignorar ou esquecer, porque nos incomodam ou acusam. Por exemplo, a história oficial do Brasil quase não fala das lutas populares ou só fala de modo negativo. Enquanto ignora as lutas dos índios (as confederações), dos negros (os quilombos), dos sertanejos (Canudos), exalta os ferozes bandeirantes e muitos carrascos como heróis da civilização. Por isso mesmo os movimentos favoráveis ao povo procuram resgatar aqueles fatos que são postos de lado pela história oficial.

O passado é lido e relido para ajudar o povo a perceber no “hoje” a presença escondida do Deus libertador: “Vocês saberão que eu sou YHWH!” ( Ez 14.8; 32.15; Is 45.3). A leitura profética da história relativiza o passado em função do absoluto possuído no presente, que é a certeza de que Deus caminha conosco. Na releitura que a Bíblia faz, o que importa não é tanto o passado, mas sim o presente, o povo que vive hoje, para que descubra na vida a verdade central da fé: “Ele está no meio de nós!”.

Por último, em cada época da história e em cada ambiente, os fatos eram apresentados de tal maneira que o povo pudesse reconhecer-se neles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário