No início deste século, a crítica literária e histórica dos Evangelhos, influenciada pelo avanço da historiografia, entrou num impasse e confessou-se incapaz de atingir o " Jesus da história". O biblista luterano R. Bultmann rompeu o impasse ao concluir que a fé das comunidades em Cristo não dependia da historicidade dos relatos evangélicos sobre Jesus, mas sim de Deus e da sua Palavra. Ele estabelecera assim uma distinção entre o Jesus da História e o Cristo da Fé. Esse problema é muito antigo. Sua origem está nos escritos do Novo Testamento nos quais o Cristo da Fé das comunidades helenistas aparece muito diferente de Jesus da História que viveu na Galiléia, confinado no tempo e no espaço.
Como é então que Jesus de Nazaré chegou a ser figura universal e cósmica que transparece nas cartas paulinas, 1Co 2.8; 6.6; Fl 2.10; Ef 1.1-2,22; Cl 1.15-20, e no Apocalipse, Ap 1.12-16;5.6-14,? Mediante a análise de um texto do Evangelho de João e da Carta aos Efésios, vejamos como esse problema se apresentava para as primeiras comunidades cristãs e como foi resolvido sem detrimento nem da fé nem da história.
Jo 20.11-18 "E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro.E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.", é um texto que requer nossa atenção.
Descreve a aparição de Jeus a Madalena. O autor procurou orientar a comunidade na vivência da fé em Jesus ressuscitado e presente: " Bem aventurados os que não viram e creram", jo 20.29.
Maria Madalena está perto do sepulcro e chora. A morte privou-a para sempre da presença do Mestre e amigo. O único ponto de contato era o sepulcro onde foi colocado o seu corpo. Maria não sai de lá. Ela quer preservar o lugar e os momentos em que tinha experimentado pela última vez a presença daquele que tinha marcado sua vida para sempre.
Olhando para dentro do sepulcro, ela vê dois anjos. eles pergutnam: Mulher por que choras?" Mas a atenção e o afeto de Madalena estão de tal modo voltados ao passado que não lhe passa pela cabeça que a presença e a pergunta dos dois anjos possam significar algo novo e diferente. Ela só sabe dizer: "Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram!", Jo 20.13. Em seguida , o próprio Jesus se apresenta e pergunta: " Mulher, por que choras? A quem procuras?" Jo 20.13.
Mas a saudade, a lembrança do passado, a fixação na pessoa de Jesus tal como tinha conhecido impedem de perceber a presença do próprio Jesus que conversa com ela. O Jesus da história impedia de reconhecer o Cristo da fé. Seus olhos só se abrem quando Jesus a chama pelo nome" Miriam" v.16 . Mas o simples reconhecimento ainda não é a experi~encia da ressurreição. Ela diz: "Raboni!". É o nome de antes, de quando ainda convivia com Jesus. Ainda não é o nome do Ressuscitado. para madalena, no momento em que reconheceu Jesus, tudo voltou a ser como antes. Ela tenta agarrar Jesus para retê-lo e impedir que alguém o leve de novo. Ainda não percebe que a presença não é a mesma de antes, que a vida é a vida de Ressurreição. Falta o passo decisivo que Jesus ajuda a dar: "Não me retenhas!" Em vez de reter, Madalena deve aprender a soltar .
Ela só possuirá a vida quando estiver disposta a perdê-la, Mc 8.35. Só resta a ela e a nós soltar todas as certezas construídas anteriormente e ficar com a certeza da fé: "Ele está vivo no meio de nós!" Presença amiga, absolutamente certa, que não pode ser manipulada nem assegurada por nosso esforço!
È na entrega total de tudo que está a fonte da plena liberdade. A experiência da gratuidade dessa presença amiga enche a vida de tal modo que a pessoa se sente impelida a partilhá-la com os outros. Em vez de ficar parada, fixada em Jesus, Madalena sai para annciá-lo à comunidade, proclamando: " Vi o Senhor!"
q coisa linda!!
ResponderExcluirSe a fé nunca dependeu da história porque fazem tanta questão desta? Por que insistem nessa bruma que envolve os primeiros séculos do cristianismo? Não devia ser assim. No entanto, quando fazemos uma aproximação dos fatos com fatos e não com ideias, é possível outra conclusão.
ResponderExcluirhttp://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver