terça-feira, 1 de junho de 2010

A Rainha Esther – Parte 2

- Entretanto, não podemos seguir mais o curso deste mundo (Ef 2.1-6), nem nos conformarmos a ele (Rm 12.2). Devemos agir como Ester: sem deixar de fazer a nossa parte, procurando nos preparar para os desafios que nos apresentam em todos os aspectos de nossa vida (profissional, educacional, familiar, entre outros), jamais devemos abandonar o amor ao próximo, a consideração do outro, o "altruísmo", sempre fazendo bem, pois, quem pode fazer o bem e não o faz, peca (Tg 4.17) e quem peca, não viu nem conheceu a Cristo, nEle não permanece (1 Jo3.6), não é nascido de Deus (1Jo 5.18).

- Em meio à impiedosa e implacável concorrência dos dias de hoje, notadamente no âmbito profissional, devemos agir de modo a que alcancemos graças aos olhos dos outros. Isto significa que não podemos, de modo algum, tentar prejudicar os nossos concorrentes, "puxar-lhes o tapete", como costuma dizer o povo.

- Isto significa que não devemos, também, desejar mal ao próximo, ainda que seja nosso concorrente, pois, se somos salvos, queremos bem a todos, porque somos benignos (1C 13.4,5). Este querer bem é tão amplo que, inclusive, nos impede de nos contentarmos quando o concorrente se prejudica (Pv 24.17,18).

- Isto significa que não podemos suspeitar mal de pessoa alguma e que não podemos nos envolver em intrigas ou agir com desconfiança, pois o amor não suspeita mal (1 Co 13.5), ou seja, devemos vigiar para que não entremos em embaraços, artimanhas, que nossa imaginação seja levada a conceber atitudes e a efetuar verdadeiros "ataques preventivos" nem os nossos relacionamentos, levando-nos a iras, pelejas e dissensões que somente nos desgastarão e comprometerão nosso testemunho de servos do Senhor.

OBS: Recentemente, por ocasião da comemoração dos 40 anos da Guerra dos Seis Dias, o confronto bélico em que Israel teve grande vitória sobre os árabes e lhe trouxe a cidade de Jerusalém integralmente sob seu domínio, militares de ambos os lados chegarão à conclusão de que nenhum dos exércitos envolvidos queria a guerra, mas que todos foram levados à guerra por causa das desconfianças, das más suspeitas de cada lado. Quantas vezes isto não acontece em nossas vidas?

- Isto significa que temos de ajudar a quem nos pede ajuda, ainda que esta ajuda signifique o bem daquela pessoa em detrimento de nós mesmos, ainda que esta ajuda não nos seja reconhecida. Que nosso sentimento seja o mesmo do apóstolo Paulo: "Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado"( 2 Co 12.15). Devemos andar fazendo bem e Ester certamente o fazia e, por isso, achava graça diante de todos na "casa das mulheres".

- O resultado desta obediência e altruísmo de Ester foi a sua escolha como rainha. Assuero teve a graça e a benevolência do rei, numa comprovação da chamada "lei da ceifa"(Gl 6.7), uma das leis divinas que muitos têm negligenciado e se esquecido nestes dias tribulosos em que vivemos. Como demonstrava graça aos outros, como era benevolente aos outros, Ester foi tratado com graça e benevolência por Assuero e alcançou a posição de rainha. Quantas concorrentes não criaram intrigas, artimanhas e ciladas para se tornar rainhas? Mas não alcançaram a bênção, pois só aqueles que servem a Deus alcançam o que de mais precioso existe para um mortal: a vida eterna. Temos corrido convenientemente a carreira que nos está proposta?

- A escolha de Ester deu, como resultados imediatos, uma nova festa real, bem como repouso a todo o reino da Pérsia (Et 2.28). Assuero foi um rei belicoso, diz-nos a história, que tentou, em vão, conquistar a Grécia para o Império Persa, tendo tido grande derrota. Recolhido em seus domínios, Assuero havia convocado uma grande festa, que resultara na afronta de sua própria rainha. Desde então, não acontecera qualquer outra festa. Naquele tempo, isto era sinal de que não havia contentamento da parte e, quando o rei não estava contente, a população deveria temer, visto que, como dizia Salomão, pois "o furor do rei é como um mensageiro da morte" (Pv 16.14a) e "na luz do rosto do rei está a vida, e a sua benevolência é como a nuvem de chuva serôdia."(Pv 16.15). Não é à toa que, quando Herodes se perturbou, toda a Jerusalém se perturbou com ele (Mt 2.3).

OBS: A propósito, a história revela que Assuero foi um rei temperamental, extremamente volúvel e impulsivo, o que foi a principal causa de seus insucessos militares. Diz-se que, por causa de sua impetuosidade, mandou executar, após uma derrota naval, o comandante dos navios fenícios, que havia contratado e, como resultado disto, acabou tendo a deserção de toda a marinha fenícia que estava a seu serviço.

- Assim, quando convocou uma festa para celebrar seu casamento com Ester, Assuero demonstrou que a alegria havia voltado à sua vida, o que representava, certamente, um alívio para a população daquele vasto império. Vemos, pois, que Ester se apresentou, de pronto, como uma bênção para todo o reino, um motivo para contentamento e alegria de todas as cento e vinte e províncias desde a Índia até a Etiópia, que se encontravam sob o cetro de Assuero. O bom testemunho de Ester resultara em alegria, felicidade e contentamento para todo o Império Persa.

- De igual modo, o bom testemunho do cristão é, hoje, motivo de alegria e contentamento para todos aqueles que estão à nossa volta. Se o mundo não se deteriorou de vez, se a podridão ainda não se estabeleceu por completo sobre a face da Terra, é porque ainda existe um povo que serve a Deus e que dá motivo a alguma alegria, esperança e felicidade para toda a humanidade. Um povo que, por ter o Espírito Santo habitando nele (Jo 14.17), tem alegria como uma das qualidades de suas ações (Gl 5.22), pois é Este que habita nele que resiste ao mistério da injustiça (2 Ts.2.6,7). Nossa vida tem trazido alegria espiritual ao ambiente que nos cerca, ao nosso "Império Persa"?

- Mas, além de ter havido uma festa quando da coroação de Ester, a Bíblia nos diz que, após esta coroação, seguiu-se um período de repouso no Império (Et 2.18). Como já dissemos, Assuero passou para a história como um guerreiro, um rei voltado para conquistas militares, mas, em chegando Ester, houve uma mudança no "estado do rei". Assuero tornou-se pacífico, aquietou, passou a ter mais tranqüilidade. Recebeu paz. Ester era o motivo desta instauração de paz no Império. Ester era uma serva de Deus, o Deus que é paz (Jz 6.24), paz que é dada única e exclusivamente por Deus (Is 26.12), paz que é resultado de nossa união com o Senhor (Jó 22.21).

- O verdadeiro cristão produz paz, pois esta é uma das qualidades que caracterizam as suas boas obras (Gl 5.22). O servo de Deus autêntico, como é filho de Deus, é um pacificador (Mt 5.9), até porque recebeu a paz diretamente de Cristo (Jo 14.27). Temos trazido paz ao ambiente em que vivemos, em que estamos? Somos pacificadores, apaziguamos aqueles que estão à nossa volta? Ou nossa conduta tem gerado a mesma decepção que teve o apóstolo Paulo em relação aos crentes de Corinto (1 Co 6.7)?

- O bom testemunho de Ester, portanto, aliado a sua formosura e beleza, foi o grande responsável por tornar uma órfã cativa numa rainha da Pérsia. Mas tudo isto era um propósito divino para a salvação não somente do Seu povo, mas de toda a humanidade.

II – A BIOGRAFIA DE ESTER (II) – UMA RAINHA QUE SE TORNOU INSTRUMENTO DIVINO PARA A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE

- No trono, a agora rainha Ester não alterou a sua conduta. Diz-nos a Bíblia que, mesmo após sua coroação, Ester continuou a obedecer ao seu pai de criação, Mardoqueu, não declarando a sua nacionalidade nem a sua parentela (Et.2.20). "O sucesso não subiu à cabeça", como diz conhecido dito popular. Ester manteve a sua humildade, não se ensoberbeceu, apesar da vitória alcançada.

- Muitos, em nossos dias, não têm esta postura. O presente século é habitado por "homens orgulhosos" (2 Tm 3.4), pessoas que, assim que atingem uma posição vantajosa na sociedade, no seu local de trabalho e, até mesmo, na igreja local, esquecem-se de que são pó (Sl 103.14), de que são como a flor da erva (1 Pe 1.24), que é menos do que nada (Is 41.24), passando a agir com arrogância, como verdadeiros "donos do mundo", humilhando o próximo, prejudicando a todos quantos estão à sua volta. O resultado destes que se exaltam é o pior possível: serão abatidos repentinamente, por uma direta ação divina, pois a Palavra de Deus é bem clara: "A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra"(Pv 29.23). Quem não tem humildade, é visitado pelo próprio Deus. Quem o diz é o Senhor, em Seu diálogo com Jó: "Olha para todo soberbo, e humilha-o, e atropela os ímpios no seu lugar" (Jó 40.12).

- O livro de Ester, a propósito, é um exemplo cabal disto que estamos a falar, pois mostra o contraste entre Ester, que mantém a sua humildade e submissão a seu pai de criação e, sobretudo, a Deus, mesmo no trono e Hamã, a nova personagem que aparece no capítulo 3 do livro, cuja soberba e arrogância farão com que seja levado a ser enforcado na forca que ele próprio preparara para Mardoqueu.

- Após o repouso causado pela coroação de Ester, conta-nos o texto sagrado que se inicia uma grande tribulação na vida não só de Ester mas de todo o povo judeu. Assuero decidiu exaltar Hamã, um agagita, ou seja, um descendente de Agague, rei dos amalequitas, tradicional povo inimigo do povo judeu e que já deveria ter sido destruído da face da Terra, não fora a desobediência de Saul (1 Sm 15.8,9). Vemos, assim, de pronto, como a desobediência a Deus deixa suas conseqüências e vestígios que, após séculos, ainda podem prejudicar o povo do Senhor.

- Hamã, apesar de toda a sua exaltação por parte do rei Assuero, que o tornou a maior autoridade da Pérsia depois do rei, não estava contente, pois não admitia que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante de Hamã, como havia sido ordenado por Assuero(Et 3.2-4). É interessante observar que Mardoqueu, um homem que havia sempre sido submisso e leal ao rei, que havia tão bem educado a Ester no que respeita à obediência, abertamente desatendia ao mandado do rei, traspassando-o. E por que o fazia? Porque, nesta matéria, o rei Assuero havia ultrapassado os limites de sua autoridade real.

- Como rei, era Assuero, embora não o admitisse, tão somente uma pessoa constituída por Deus para fazer o bem a toda a população de suas cento e vinte e sete províncias (Rm 13.4). Todo governante deve ser respeitado e cada um deve obedecer-lhe, pois resistir à autoridade é o mesmo que resistir a Deus (Rm 13.1,2). No entanto, trata-se de uma "autoridade", ou seja, pessoa que tem a autorização de outrem, "in casu", do próprio Deus, para exercer as suas funções. Deus não admite que Sua glória seja repartida com quem quer que seja (Is 48.11b) e, por isso, nenhuma autoridade pode determinar que alguém seja adorado ou venerado como se fosse um deus. Era o que Assuero havia determinado em relação a Hamã e Mardoqueu, sendo um fiel servo do Senhor, não podia, pois, atender a esta ordenança, feita, para se utilizar de uma expressão jurídica atual, em "abuso de poder", em "abuso de autoridade".

- Hamã, escravo que era da soberba, pecado terrível e que se constitui numa das três características que existem no mundo (1 Jo 2.16), ao saber da recusa de Mardoqueu em venerá-lo ou adorá-lo, logo se tornou um instrumento de Satanás. Decidiu que não só mataria Mardoqueu, mas eliminaria todo o seu povo, pois sabia que Mardoqueu era judeu e que, ao não se prostrar diante dele, nada mais fazia que cumprir a lei de Moisés. Após o repouso proveniente da coroação de Ester, o adversário do povo de Deus já arquitetava uma forma de destruir Israel e, com isso, impedir que a humanidade pudesse ser salva, pois, se Israel fosse destruído, não poderia nascer o Salvador, pois a salvação viria dos judeus (Gn 12.3; Jo 4.22; Gl 3.16).

- Diz conhecido dito popular que "depois da tempestade, vem a bonança". Na vida espiritual sobre a face da Terra, podemos dizer que esta não é a visão completa. Se depois da tempestade, vem a bonança, enquanto Jesus não voltar para buscar a Sua igreja, continuaremos a ter depois da bonança, novas tempestades. O Senhor alertou-nos de que no mundo teríamos aflições (Jo 16.33) e que o nos restaria fazer era ter bom ânimo e combater o bom combate até acabar a carreira.

- Ester não havia sido guindada à posição de rainha à toa. O Senhor, na Sua presciência, sabia que Israel correria o risco de desaparecer e, como tinha compromisso com a Sua promessa de salvar a humanidade, feita ainda no Éden (Gn 3.15), não poderia permitir que o povo judeu fosse completamente destruído. Deus dá o escape (Sl 71.2; 1 Co 10.13), mas não nos impede de passar as dificuldades. Lembremo-nos de que, na vida debaixo do sol, sempre haverá o dia bom e o dia mau (Pv.16.4).

- Hamã, diante do seu prestígio, logo conseguiu do rei Assuero a ordem para a destruição completa do povo judeu (Et 3.7-15). Ao saber da notícia, Mardoqueu rasgou os seus vestidos e se vestiu de saco, claro sinal de humilhação e clamou com grande e amargo clamor pelo meio da cidade (Et 4.1). De igual modo, os judeus, quando recebiam a notícia da ordem de destruição, puseram-se a jejuar e a se humilhar (Et 4.3).

- Grande lição dá-nos o povo judeu. Ante a perseguição, a ameaça concreta de completa destruição, os judeus voltaram-se para Deus, a fim de alcançar a sua libertação. Em território estrangeiro, longe do templo, em vez de se armarem, em vez de se rebelarem ou buscarem junto ao rei, mediante artimanhas políticas, a revogação da sua ordem, os judeus preferiram clamar a Deus, pois dEle é que sabiam viria o socorro (Sl 121.1). Nós, que temos uma revelação completa de Deus, bem ao contrário dos judeus dos tempos de Ester, que viviam ainda na sombra e figura das realidades eternas (cf. Hb 10.1), temos agido da mesma forma? Quantos são aqueles que, em vez de recorrerem a Deus, através do jejum e da oração, preferem as artimanhas políticas, os "conchavos", e, até mesmo, a luta armada, a revolta e a sedição como caminho para tentar obter da autoridade algum favor ou direito. Povo de Deus, o nosso socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra!

OBS: Neste sentido, devemos ressaltar a postura recente de Júlio Severo, escritor evangélico, que, além de ter sido um dos protagonistas do movimento contra a aprovação do projeto de lei de criminalização da homofobia, tem insistido que a vitória não virá da mobilização intensa que tem sido feita, mas, sobretudo, de oração e jejum por parte da Igreja brasileira.

- Neste ponto, vemos uma falha na vida de Ester. Embora fosse certo que a rainha não deveria declarar a sua nacionalidade nem a sua parentela, em obediência ao mandado de seu pai de criação, Mardoqueu, não se pode deixar de observar que se manteve indiferente a todo o clamor do seu povo. Mardoqueu, embora fosse funcionário do rei, trabalhasse em seu palácio, não se intimidou de vestir saco e de clamar, pela cidade, diante da iminente destruição do seu povo. Ester, porém, manteve-se alheia a tudo o que se passava, somente passando a jejuar e orar quando Mardoqueu lhe exigiu uma postura (Et 4.7-11).

Nenhum comentário:

Postar um comentário