sábado, 20 de junho de 2009

" ESTER : O PODER A SERVIÇO DA JUSTIÇA" - Parte 3

"A Subversão que ameaça o poder"

Depois de uma semana de festa e vinho, o rei que a rainha Vasti fosse trazida até os convivas, a fim de que sua beleza fosse lhes fosse exibida (Et 1.10-12). Quando Vasti se recusa apresentar-se, Xerxes a depôs de sua posição e passou a buscar outra que pudesse assumir o lugar da rainha 2.1-4.

O rei está furioso, consulta os sete sábios-legistas, assessores diretos. O que a rainha fez foi violar o princípio da autoridade, e o pior, na presença e contra todos os oficiais e todos os súditos que vivem por todas as províncias do rei Assuero”. O rei será caçoado para sempre se não tomar providência.

Mas ainda acho que não é só isso, pois como esposa, Vasti criou o princípio de subversão da autoridade do marido sobre a própria esposa. Isso vai prejudicar todos os homens que, vivendo num sistema de autoridade que oprime, também eles reproduzem domesticamente o esquema da opressão: o rei domina a elite, a elite domina o povo, os homens dominam as mulheres. Além de se insurgir contra a ordem imperial, Vasti também se insurgiu contra a ordem patriarcal. Sabendo o que a rainha fez, nenhuma outra pessoa continuará a respeitar, submissa, as vontades e caprichos de seu marido. Uma revolução em toda a escala social.

Aí vem o conselho. Promulgar um decreto real que seja incluído na legislação do império. Primeiro passo: o castigo de Vasti, consertando a ordem no palácio. Já que ela não quis ver o ri, agora nunca mais poderá vê-lo. O título de rainha será passado para outra, “que seja melhor do que ela”. Isso soa como ironia, já que sabemos o que vai acontecer por meio de Ester. O segundo passo que o decreto prevê é restabelecer a ordem patriarcal em todo o império. Vendo o que o rei fez a Vasti, todas as mulheres, “tanto os nobres, como as do povo... respeitarão seus maridos”.

Dessa forma a “ordem” seria restabelecida de cima para baixo.   Assuero gostou e decretou para todo o império que “o marido fosse o chefe  da casa”. Assuero é rei do império. O homem é rei da casa. O sistema fica então assegurado, reproduzindo  princípio do poder opressor em toda a escala social, desde a base familiar até a mais alta cúpula. Se os sistema não se reproduziu em todos os níveis ele fica ameaçado. É preciso tapar todos os buracos, senão o navio afunda. O problema é até quando esse navio vai navegar.

O episódio mostra o perigo de uma subversão de cima para baixo. Também se poderia falar numa subversão que vem de baixo para cima, isto é, partindo da família, nível básico, até atingir outros níveis. E isso nos faz descobrir que o sistema da família patriarcal não é melhor nem o único. A própria Bíblia anuncia uma perspectiva que mina pela base a estrutura da família patriarcal: “Nesse dia você me chamará ‘Meu marido’ e não mais ‘Meu ídolo’. Vou tirar de seus lábios o nome dos ídolos, e esses nomes nunca mais serão lembrados”, Os 2.18-19. A palavra ídolo aqui se diz em hebraico Baal, nome atribuído ao esposo, e que significa senhor, dominador. No clima patriarcal o marido é o dominador da esposa. Mas a Bíblia penetra esse clima e o transforma, acabando com a pirâmide da dominação familiar, que tende a penetrar todas as outras formas de relação social. O projeto de Deus tende a uma superação de todas as formas de dominação, transformando-as em relações de partilha e fraternidade.

A atitude de Vasti faz pensar nos movimentos feministas atuais. A emancipação da mulher em relação aos papéis subordinados que o mundo patriarcal lhe reservava acabou abalando e questionando a própria ordem patriarcal. Os homens são particularmente atingidos no cerne de sua identidade. O que é ser um ser masculino? Apenas representar socialmente os papéis masculinos previstos pela ordem patriarcal? Ou seria algo mais? Não é à toa que hoje se multiplicam os estudos psicológicos sobre a identidade masculina e sua essência. Assim, os movimentos feministas atuais atingem e questionam o mundo dos homens, que sentem a interpelação das mulheres: “Nós mulheres, somos assim. E vocês, homens, quem são?”

 

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