"O poder a serviço da justiça"
O livro de Ester não é uma narrativa histórica propriamente dita. Trata-se de um conto de estilo sapiencial para ilustrar e orientar a vida judaica num período de dominação estrangeira, com os conseqüentes problemas para a sobrevivência dos judeus, principalmente quando vivem foram da Palestina.
Poderíamos dizer que o livro é um conto ou romance sapiencial de natureza etiológica (do grego aitios = “causa”, “origem”). Em outras palavras, o livro teria sido escrito como explicação para a origem da festa de Purim (9.20-32), dominada pela alegria e descontração.
Tempos difíceis
Assuero é uma adaptação do nome Xerxes I, o rei persa que reinou entre 486 e
Mardoqueu é nome babilônico, derivado de Marduk, o deus da Babilônia. Sua genealogia demonstra que é israelita, da tribo de Benjamim. Como descendente de Cis, pai de Saul, Mardoqueu é de estirpe real. Ele serve na corte persa, em Susa, a capital invernal do império, uma das três capitais, ao lado de Ecbátana e Babilônia. Que muitos judeus serviam na corte estrangeira, isso era de fato, como podemos ver pelo caso de Neemias, de Daniel e, em tempo muito anterior, de José do Egito. A história de José sem dúvida criou esse tipo de narrativa.
Os banquetes dos poderosos = dominação - 1.1-2.18
A notícia de que Xerxes I reinava sobre 27 províncias é dado historicamente correto. O que se pretende é salientar o imenso poder do rei e a universalidade do seu reino, já que “desde a Índia até a Etiópia” englobava praticamente o mundo então conhecido. Susã, uma das três capitais, é a capital usada no inverno. Esse dado inicial coloca Assuero, rei do mundo conhecido, em contraste com Deus, Senhor da história e da vida. Os poderosos imperialistas competem com Deus! Tal competição vai se verificar inclusive em termos de projeto.
O projeto de Deus é a liberdade e a vida para todos. Ele dirige a história em direção à realização desse projeto. A melhor forma como Israel concebeu a realização é o banquete do Reino de Deus realizado na história (Is 25.6). Nesse banquete, onde há fartura, ausência de trabalho e concretização da fraternidade, o povo frui completamente o grande Dom de Deus. E tudo começou com o banquete da Páscoa (Ex 12.1-14), celebrando a libertação do povo em relação à história imperialista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário