A. A Mensagem de João
"Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu nome". João 20.30,31
João 20.30,31 e o Propósito do Evangelho
“Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Este, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que , crendo tenhais vida em seu nome”.
Os manuscritos do texto grego de João variam levemente aqui, de um modo que tem permitido a alguns estudiosos argumentar que o propósito de João não era o de criar a fé, mas mantê-la. A variação afeta o tempo do verbo traduzido “para que creiais”. Alguns, manuscritos têm o tempo grego aoristo, que produziria a paráfrase “tenhais chegado à fé”. Outros têm um tempo presente, que resultaria em “podeis vir a crer”, e que pode, portanto implicar que João escreveu com os cristãos em mente, tentando apoiá-los e fortalecer sua fé.
Entretanto, mesmo que o tempo presente seja correto, a paráfrase poderia igualmente ser “podeis vir a crer e continuar na fé”. O tempo presente é usado com este sentido em João 6.29, dirigindo-se aos não-crentes.
Certamente o Evangelho de João sustenta e fortalece a fé dos crentes, e tem sempre feito isto. Certamente, isto parece ser parte de seu propósito. Mas o plano de João é mais amplamente exteriorizado do que meramente isto. De 20.30,31 podemos inferir três aspectos a respeito de seu propósito;
1. Os “sinais” desempenham um papel vital em seu Evangelho porque pode de persuadir seus leitores a crer.
2. Ele tem os judeus particularmente em sua mente, porque eles precisam aprender que Jesus é “o Cristo”, isto é, o Messias.
3. Ele quer que a fé cresça da fé intelectual que Jesus é o Cristo para a fé experiencial que significa “vida em seu nome”.
B. Os fundamentos da fé
O caminho para a vida é a fé, 3.14-16,36; 6.47; 20.31. Mas sobre o que repousa a fé? João concordaria com a resposta dada por Paulo em Romanos 10.17: “ A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo”. A fé nunca está isolada. Ela é sempre uma resposta a uma iniciativa de Deus. Em particular, ela é despertada por sua palavra, ou, como João diria por seu “testemunho”. Crer no testemunho de Deus, dado através de Cristo, é tomar os primeiros passos vitais para a fé leva à vida eterna: acima de tudo, esta é a mensagem do Evangelho de João.
C. Que testemunho João apresenta?
Testemunho humano. Nas palavras de abertura do Evangelho, como naquelas da primeira carta e de Apocalipse, João traz seu próprio testemunho sobre o Senhor Jesus Cristo: “Vimos a sua glória”, 1.14. Assim, ele inicia seu Evangelho com uma afirmação, não com uma prova. Do mesmo modo do Gênesis traz como introdução “No princípio... Deus”, anunciando a existência do Pai, assim o Evangelho de João tem como introdução “No princípio era o Verbo”, afirmando a preexistência do Filho de Deus"
Estas verdades eternas são produto da revelação divina, não da especulação humana. Agora, porém, são elas comunicadas pelo apaixonado testemunho de seres humanos, que se tornaram convencidos delas. O Evangelho começa e termina com esta nota de testemunho apostólico ( compare com 21.24). Nos capítulos interpostos temos uma sucessão de pessoas que se encontram com Jesus e dão testemunho sobre Ele:
· O testemunho de João Batista é introduzido juntamente com o de João no começo, 1.6-8, e é o mais elaborado ( vide 1.19-36;3.25-30;10.40-42), talvez porque João Batista era amplamente reconhecido como um profeta pelos judeus nos dias do apóstolo João.
· Uma sucessão de discípulos encontram Jesus e dão testemunho, 1.37-51; André convence seu irmão Simão, e Filipe traz Natanael o qual faz então uma expressiva confissão de fé, 1.49.
· Os samaritanos dão um forte testemunho no capítulo 4: primeiro a mulher torna-se convencida de que Jesus é “o Messias” ,4.29, e depois seus compatriotas afirmam que Jesus é o “Salvador do mundo”, 4.42
- Pedro, 6.68,69, a multidão em Jerusalém, 7.40-42, o homem nascido cego, 9.17 Marta, 11.27, e Tomé, 20.28, todos dão diferentes testemunhos de Jesus, dependendo de suas diferentes experiências com Ele. A confissão de Tomé compõe um vigoroso clímax de toda a história.
· Pedro, 6.68,69, a multidão em Jerusalém, 7.40-42, o homem nascido cego, 9.17, Marta, 11.27, e Tomé, 20.28, todos dão diferentes testemunhos de Jesus, dependendo de suas diferentes experiências com Ele. A confissão de Tomé compõe um vigoroso clímax de toda a história.
Para decidir isto, é necessário apresentar evidência, e testemunhos posteriores são requeridos. Embora essas testemunhas humanas sejam importantes, Jesus não depende de seus testemunhos para avaliar suas reivindicações, 5.34. Ele até aceita o princípio legal: “Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro” 5.31. Nos tribunais judaicos nenhum testemunho podia ser aceito a menos que fosse corroborado.
Os fariseus lançaram isto a Jesus em 8.13: “Tu dás testemunho de ti mesmo, logo o teu testemunho não é verdadeiro”. Porém Jesus aceita este repto e replica: “ Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim”, 8,17,18. E assim uma Segunda testemunha é convocada:
b. Testemunho divino. O Dr. A. E. Harvey[1] esclarece o significado de Ter Jesus chamado a Deus para testemunhar em 5.37 e 8.18 cp 8.50; 10.32. Nas cortes judaicas, o testemunho solitário podia ser aceito se acusado invocasse solenemente a Deus para testemunhar que sua declaração era verdadeira. Este era um passo sério a ser tomado porque, se estivesse de fato mentido, o acusado expunha-se ao julgamento de Deus. E, de modo oposto seus acusadores teriam de pensar duas a três vezes antes de repetir sua acusação, porque ele também podiam opor-se a Deus e atrair o julgamento sobre si mesmos.
[1] O Dr, Harvey tem mostrado proveitosamente, em seu livro Jesus sob Julgamento, como figura do tribunal de justiça permeia todo o Evangelho de João. João apresenta sua narrativa do ministério de Jesus como se Ele estivesse em julgamento do começo ao fim, e não apenas no final diante do sumo sacerdote. Na realidade, neste Evangelho Jesus nunca é formalmente julgado. Ele é executado sem o devido processo da lei, muito embora Ele mesmo pleiteasse que testemunhas fossem convocadas quando compareceu diante do sumo sacerdote, 18.21. O julgamento ocorre neste sentido informal, através de todo o livro modo que os leitores de João são eles mesmos colocados em cena e compelidos a vir por sua própria decisão
Este é o espírito pelo qual Jesus invoca a Deus por testemunha em seu favor. Em qualquer caso, a natureza da reivindicação de Jesus é tal que somente Deus podia autenticá-la e apoiá-la: Jesus alega ser o Filho, unicamente autorizado a dar vida e exercer o julgamento, ambas prerrogativas do próprio Deus, 5.19 –23. Assim, é não somente um passo corajoso, mas essencial em seu caso, que Jesus deva citar a Deus como testemunha em seu favor.
Eles perguntam, como os opositores de Jesus fazem, como Deus dá testemunho de seu Filho (p.ex., 8.19. Este testemunho divino, diz Stott, responde João, é triplo.:
i. O Pai profere seu testemunho por meio dos lábios de Jesus. Repetidas vezes Jesus nega que exponha suas palavras por sua própria autoridade. Sua autoridade é derivada do Pai que é seu autor. Não é Ele próprio a Palavra do Deus encarnado, 1.14 ? Então suas palavras são as palavras de Deus, 2.34:
· “ O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou” 7.16
· “Nada faço por mim mesmo; mas falo como Pai me ensinou” 8.28
· “Eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar... As coisas, pois, que eu falo, como o Pai me tem dito, assim falo” 12.49,50 .. Eu lhes tenho dado a tua palavra” 17.8,14.
Jesus espera que todos os que o ouvem creiam em suas palavras, porque Elas são as palavras de Deus. Ao fazer esta solene afirmação, Ele está deliberadamente aludindo à famosa promessa dada a Moisés em Deuteronômio 18.18: “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar”.
João, naturalmente, acredita que Jesus fale as palavras de Deus não apenas porque Ele é um “profeta como Moisés”, que as pessoas estavam esperando, cp. 1.21, mas porque Ele é muito mais que um profeta: Ele é a própria “Palavra de Deus” em pessoa. Mas como tal ele cumpre a profecia de Deuteronômio 18, e seus leitores precisam ser postos em seus lugares: eles o escutarão?
Em relação a isto é digna de ser considerada a admirável nova designação de Deus no Evangelho de João como “aquele que me enviou”. Estas paráfrases dos nomes “Pai” e “Filho” quase sempre ocorrem em contextos em que a autoridade do Filho é desafiada ou a do Pai é reivindicada. “Aquele que enviar” sustenta a autoridade de “quem Ele enviou”:
· “O enviado de Deus fala as palavras dele”, 3.34.
· “Aquele que me enviou e verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo”, 8.26.
· Jesus, pois, enquanto ensinava no templo, clamou:...”não vim porque eu de mesmo quisesse, mas aquele que me enviou é verdadeiro, aquele a quem vós não conheceis. Eu o conheço, porque venho da parte dele e fui por ele enviado, 7.28,29.