sábado, 9 de janeiro de 2010

Regeneração, Justificação e Adoção

A Regeneração

Quando correspondemos ao chamado divino e ao convite do Espírito e da Palavra, Deus realiza atos soberanos que nos introduzem na família do Seu Reino: regenera os que estão mortos nos seus delitos e pecados; justifica os que estão condenados diante de um Deus santo; e adota os filhos do inimigo. Esses atos ocorrem simultaneamente naquele que crê.

A regeneração é a ação decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior. O substantivo grego (palingenesia) traduzido por "regeneração" aparece pelo menos duas vezes do Novo Testamento. Mateus 19.28 emprega-o com referência aos tempos do fim. Somente Tito 3.5 se refere à renovação espiritual do indivíduo. Embora o Antigo Testamento tenha em vista a nação de Israel, a Bíblia emprega várias figuras de linguagem para descrever o que acontece. O Senhor "tirará da sua carne o coração de pedra e lhes dará um coração de carne" (Ez 11.19). Deus diz "Espalharei água pura sobre vós, ficareis purificados... E porei dentro de vós o meu Espírito e darei que andeis nos Meus estatutos" (Ez 36.25-27). Deus colocará a Sua lei "no seu interior e a escreverá no seu coração" (Jr 31.33). Ele "circundará o teu coração... par amares ao Senhor "(Dt 30.6).

O Novo Testamento apresenta a figura do ser criado de novo (2 Co 5.17) e a da renovação (Tt 3.5), porém a mais comum é a de "nascer" (Gr gennaõ, "gerar" ou "dar à luz"). Jesus disse: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" (Jo 3.3). Pedro declara que Deus, em Sua grande misericórdia, "nos gerou de novo para uma viva esperança" 1Pe 1.3. ´

E uma obra que somente Deus realiza. Nascer de novo diz respeito a uma transformação radical. Mas ainda se faz mister um processo de amadurecimento. A regeneração é o início do nosso crescimento no conhecimento de Deus, na nossa experiência de Cristo e do Espírito e no nosso caráter moral.

Justificação

Assim como a regeneração leva a efeito uma mudança em nossa natureza, a justificação modifica a nossa situação diante de Deus. O termo "justificação" refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo na cruz, Deus declara os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas conseqüências eternas, declarando-os plenamente justos aos Seus olhos. O Deus que detesta "o que justifica o ímpio" (Pv 17.15) mantém Sua própria justiça ao justificá-lo, porque Cristo já pagou a penalidade integral do pecado (Rm 3.21-26). Constamos, portanto, diante de Deus como plenamente absolvidos.

Para descrever a ação de Deis a justificar-nos, os termos empregados pelo Antigo Testamento (hb tsaddiq: Êx 23.7; dikaioõ: Mt 12.37; Rm 3.20; 8.33,34 sugerem um contexto judicial forense. Não devemos, no entanto, considerá-la um ficção jurídica, como se estivéssemos justos sem no entanto sê-lo. Por estarmos nEle (Ef 1.4,7,11), Jesus Cristo tornou-se (Gr logizomai) sua justiça em nosso favor Ela é imputada a nós.

Como ocorre a justificação no crente? A Bíblia deixa duas coisas bem claras. Em primeiro lugar, não é por causa de nenhuma boa obra de nossa parte. Realmente, "Cristo morreu debalde" se a justiça provém da obediência à Lei (Gl 2.21). Quem procura ser justificado mediante a Lei está sujeito à maldição (Gl 3.10), foi "separado de Cristo" e "caiu da graça" (Gl 5.4). Quem imagina estar mais justificado depois de servir ao Senhor durante cinco ou 55 anos ou pensa que boas obras obtêm mérito diante de Deus, deixou de compreender o ensino bíblico.

Em segundo lugar, no próprio amado do Evangelho encontra-se a verdade de que a justificação tem sua origem na livre graça de Deus (Rm 3.24) e Sua provisão no sangue que Cristo derramou na cruz (Rm 5.19), e nós a recebemos mediante a fé (Ef 2.8). É comum, quando ocorre a idéia da justificação no Novo Testamento, a fé (ou o crer) achar-se ligada a ela (cf. At 13.39; Rm 3.26,28, 30; 4.3,5; 5.1; Gl 2.16; 3.8). A fé nunca é o fundamento da justificação. O Novo Testamento jamais afirma que a justificação é dia pistin ("em troca da fé"), mas sempre dia pisteos, ("mediante a fé"). A Bíblia não considera meritória a fé, mas simplesmente como a mão vazia estendida para aceitar o dom gratuito de Deus. A fé tem sido sempre o meio de se receber a justificação, mesmo no caso dos santos do Antigo Testamento (Gl 3.6-9).

Tendo sido justificados pela graça, mediante a fé, experimentamos grandes benefícios de agora em diante. "Temos paz com Deus" (Rm 5.19) e estamos preservados "da ira de Deus" (Rm 5.9). Temos a certeza da glorificação final (Rm 8.30) e a libertação presente e futura da condenação Rm 8.33,34). A justificação nos torna "herdeiros, segundo a esperança da vida eterna" (Tt 3.7).

A Adoção

Deus, no entanto, vai além de nos colocar em situação correta diante dEle. Conduz-nos também a um novo relacionamento, pois nos adota em Sua família. A "adoção", um termo jurídico, é o ato da GRAÇA SOBERANA MEDIANTE O QUAL Deus concede todos os direitos, privilégios e obrigações da afiliação àqueles que aceitam Jesus Cristo. Embora o termo não apareça no Antigo Testamento, a idéia se acha ali (Pv 17.20). A palavra grega huiothesia, "adoção", aparece cinco vezes no Novo Testamento, somente nos escritos de Paulo e sempre no sentido religioso. Ressalva-se que, ao sermos feitos filhos de Deus, não nos tornamos divinos. A divindade pertence ao único Deus verdadeiro.

A doutrina da adoção, no Novo Testamento, leva-nos, desde a eternidade passada e através do presente, até a eternidade futura (se for apropriada semelhante expressão). Paulo diz que Deus "nos elegeu dele [em Cristo] antes da fundação do mundo" e "nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo" (Ef 1.4,5). Diz também, a respeito de nossa experiência presente:" Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos [huiothesia], pelo qual clamamos [em nosso próprio idioma Aba [aramaico Pai], Pai [Gr. ho patêr]" (Rm 8.15). Somos plenamente filhos, embora ainda não sejamos totalmente maduros. Mas no futuro, ao deixarmos de lado a mortalidade, receberemos "a adoção, saber, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23). A adoção é uma realidade presente, mas será plenamente realizada na ressurreição dentre os mortos. Deus nos concede privilégios de família mediante a obra salvífica do Seu Filho incomparável, daquEle que não se envergonha de nos chamar irmãos (Hb 2.11).

4 comentários:

  1. Prezado pastor,

    Lendo suas palavras "Quando correspondemos ao chamado divino e ao convite do Espírito e da Palavra, Deus realiza atos soberanos que nos introduzem na família do Seu Reino: regenera os que estão mortos nos seus delitos e pecados..."

    não ficou claro para a relação entre aceitar o convite de Deus e a regeneração. Quer me parecer que primeiro alguém corresponde ao chamado divino e depois é regenerado. É isso mesmo?

    Se for, nosso entendimento diverge neste ponto.

    Em Cristo,

    Clóvis
    Editor do Cinco Solas

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  2. Querido irmão Clóvis.
    Na verdade, primeiro se atende ao chamado de Deus, qual seja, o convite do Espírito Santo que "convence o homem do pecado da justiça e do juízo", e posteriormente, o mesmo Espírito, opera a regeneração. Não há como sermos regenerados sem que, antes atendamos a convocação do Espírito Santo de Deus.
    Que Deus te abençoe meu amado. Espero me ter feito entendível.

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  3. Pr. João Luiz,

    Conforme disse no comentário anterior, neste caso discordamos. Pois entendo que estando o homem espiritualmente morto, primeiro precisa ser vivificado, antes de ter condições de responder favoravelmente ao chamado do Senhor.

    Faço uma analogia com a ressurreição de Lázaro. Primeiro ele teve que ouvir a voz do Senhor ressuscitando-o, para depois sair para fora.

    Que o Senhor continue abençoando sua vida e seus visitantes, pelas excelentes postagens.

    Em Cristo,

    Clóvis
    Editor do Cinco Solas

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  4. Querido Pastor João Luiz Marques, por gentileza referencie esse trecho extraído do livro "Teologia Sistemática - uma pespectiva pentencostal de Stanley Horton, escrito por Danil B. Pecota, pois o texto não é seu, e a boa ética, bem como, a lei autoral nos obriga a referencia a fonte principalmente a publicada.

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