sábado, 2 de janeiro de 2010

2 Coríntios – “ Eu de boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” Parte 1

A Correspondência Coríntia – Parte 1

Pano de Fundo

Durante a sua estada em Éfeso, Paulo manteve relações com as igrejas da Acaia que fundara na viagem precedente. A igreja em Corinto constituía, pela sua instabilidade, um problema espinhoso para ele. Composta em grande parte por gentios pouco familiarizados com os Escritos do Antigo Testamento e cujos antecedentes religiosos e morais eram o oposto exato dos princípios cristãos, era preciso muito ensino para levá-los até a maturidade espiritual (1 Co 3.1-3).

O ministério de Apolo entre os coríntios foi valioso em muito sentido. Pela sua cultura e bem estruturada apresentação da verdade, atraiu muitos dos coríntios. Era especialmente hábil na maneira como lidava com os judeus, visto conhecer bem o Antigo Testamento e estar apto a discutir em publico de maneira convincente (At 18.26,28). Paulo apreciava o seu ministério e recomendava Apolo (1 Co 16.12).

É possível que Pedro tenha visitado Corinto, se bem que não tivessem chegado até nós quaisquer pormenores a respeito do seu trabalho ali. Paulo menciona o seu nome como se fosse conhecido dos coríntios (1 Co 1.12), e subentende-se da sua menção que também se ocupava na pregação itinerante(1Co 9.5). É quase improvável que certa facção da igreja coríntia o invocasse como seu campeão se naquela altura não tivesse havido qualquer contato pessoal com ele.

A "Carta Perdida"

Enquanto Apolo e, possivelmente, Cefas visitavam e pregavam em Corinto, Paulo regressava à Palestina, seguindo daí para Éfeso. Durante este período, ou pouco depois do seu registro a Éfeso, escreveu uma carta a que aludiu em 1 Co 5.9 "Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem". O ambiente moral de Corinto era tal que se tornava necessária uma separação absoluta do mal, se, se pretendia que a igreja sobrevivesse. É evidente que a exortação de Paulo fora mal compreendida, pois em 1 Coríntios explicou que não advogava a retirada do mundo, mas sim que devia haver separação dos crentes professos que persistiam no referido pecado.

O conteúdo completo da carta anterior nunca será conhecido, visto haver-se perdido. É certo que o problema de pureza moral era de suprema importância em Corinto como noutros pontos do mundo gentílico, e que constituiu uma das primeiras questões que Paulo teve de esclarecer.

1 aos Coríntios foi levada ao seu destino por Timóteo (16.10). Paulo tinha procurado persuadir Apolo a encarregar-se da tarefa de solucionar os problemas da igreja, mas Apolo recusara. Talvez pensasse que a sua presença só iria aumentar a tendência cismática entre os partidários. Paulo tinha algumas dúvidas com respeito à capacidade de Timóteo, pois rogou aos coríntios que não o assustassem nem desprezassem (16.10,11).

Nada nos é dito acerca da missão de Timóteo, mas parece ter sido um fracasso. Em 2 aos Coríntios Paulo falou duas vezes dos seus planos e disse: " Eis aqui estou pronto para, pela terceira vez, ir ter convosco"( 2Co 12.14;13.1). Uma vez que a sua primeira visita a Corinto assinalou a fundação da igreja, e uma vez que a sua carta foi escrita da Macedônia, depois de sair de Éfeso, onde estava à espera de ir para Corinto, deve ter havido uma visita algures não registrada, entre a visita de Timóteo e a partida de Paulo para a Ásia. Essa visita não durou necessariamente muito tempo, pois facilmente se efetuava o trânsito de Éfeso para Corinto. Lucas não registra tal viagem em Atos, mas tão pouco registra muitos outros episódios que poderiam ser não menos interessantes ou importantes. Um estudo de conjunto de 2 aos Coríntios mostrará que Paulo foi, sem dúvida, a Corinto para tentar realizar o que Timóteo não lograra fazer e que, enquanto ali esteve, foi gravemente insultado e rejeitado o seu conselho. Rivais que se intitulavam a si mesmos apóstolos, apoiados pelas igrejas, e que se gabavam da sua ascendência judaica e da sua atividade como ministros de Cristo tinham invadido Corinto e humilhado Paulo perante a igreja (ver 2 Co 10 e 11). Além disso, os membros da igreja que tinham tomado parte nesta ofensa positivamente não se haviam arrependido (2 Co 12.21). A situação era tensa.

Paulo decidiu que não voltaria novamente a Corinto senão quando a igreja adotasse uma atitude diferente (2 Co 1.23). Nutria esperanças de angariar alguns fundos na Acaia para auxiliar a igreja de Jerusalém. Antecipando a realização do seu plano original de uma visita final à Macedônia e à Acaia, mandou Tito à frente para falar com a igreja enquanto ele encerrava o trabalho em Éfeso e ia para Trôade a caminho do ocidente.

Talvez Paulo tivesse escrito novamente para Corinto nesta altura. Tem havido algumas especulações sobre se 2 aos Coríntios representa uma epístola ou duas. Em 2 aos Coríntios 2.4 Paulo fala de uma carta anterior que escrevera "com muitas lágrimas" e cujo objetivo era convencer os coríntios do seu amor por eles. 1 aos Coríntios parece não se coadunar com esta descrição, e 2 aos Coríntios, tal como a temos, foi escrita subseqüentemente. Vários peritos sugeriram que 2 aos Coríntios 10 a 13 pode constituir uma terceira epístola escrita entre 1 aos Coríntios e 2 aos Coríntios 1 a 9, epístola essa que Paulo escreveu para se defender e que mandou à igreja por mão de Tito (2 Co 7.8-13. Outros afirmam que a carta severa intermediária se perdeu. Como no caso da primeira carta, não há provas externas satisfatórias que apóiem esta divisão de 2 aos Coríntios. Todos os manuscritos das epístolas paulinas a contém tal como ela é, de forma que a sua integridade não pode ser posta em dúvida invocando razões de variantes de manuscritos. Se os capítulos 10 a 13 representam, de fato, uma terceira epístola, enquanto que os capítulos 1 a 9 representam uma quarta, não há nenhuns vestígios de separação original na tradição dos manuscritos.

Quando Paulo chegou a Trôade depois de sair de Éfeso, procurou ansiosamente Tito, mas Tito não apareceu (2 Co 2.12,13). Paulo oprimido pela preocupação com o que poderia ter acontecido em Corinto, atravessou para a Macedônia, onde os seus problemas se multiplicaram (2 Co 7.5). Enquanto trabalhava ali e organizava com as igrejas da Macedônia a expedição dos seus donativos para Jerusalém, Tito chegou inesperadamente com a boa notícia de que se verificara em reavivamento na igreja de Corinto e que a atitude de arrependimento. Cheio de alegria, Paulo sentou-se e escreveu 2 aos Coríntios como preparação para uma terceira visita que, esperava ele, teria unicamente conseqüências felizes. Se toda a epístola foi escrita nesta altura, incluiu uma longa defesa do seu ministério (2.14 a 7.4), e o pedido de natureza financeira para que os coríntios e os seus irmãos da Acaia correspondessem às contribuições da Macedônia para Jerusalém (capítulos 8 e 9).

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