A Sabedoria Divina
"Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor" (Pv 21.30)
Continuação
3. A existência do pecado não é incompatível com a justiça de Deus. Faz parte das atribuições da justiça punir o pecador, embora não aniquilar o pecado. Em seu sentido comum, fica pressuposta a existência do governo moral de Deus bem como a existência de agentes morais, e, portanto a possibilidade de ocorrerem transgressões. As leis são decretadas tendo em mira coibir os desregrados e se não houvesse transgressores para quem eles representassem um terror.
A justiça não impede a entrada do pecado; antes, em face da transgressão encontra a ocasião mais propícia para seu mais elevado exercício. Esse atributo da justiça é exibido de modo temível e glorioso na punição dos ofensores. Ao contemplarem a destruição do anticristo, bem como a fumaceira do seu exclamar:"Aleluia! Pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso" (Ap 19.6).
No exercício da justiça punitiva de Deus é que os habitantes do céu compreenderão melhor o governo divino, contemplando o Senhor assentado no Seu trono. "Justiça e direito são o fundamento do teu trono" (Sl 89.14).
4. A existência de pecado não é compatível com a bondade de Deus. Nem mesmo aqueles que explicam a bondade (como amor à felicidade como um fim em si mesma), e entendem o desfrutar, ou o gerar a felicidade como o fundamento da virtude, concluem que a bondade de Deus deva necessariamente excluir o mal do mundo. Antes, entendem que Ele soberanamente governará sobre o mal, de tal modo que, por fim, resultará em grande felicidade (ventura) no universo, muito mais do que haveria sem a entrada do mal.
Se tudo isso for considerado como uma mera hipótese, pelo menos enquanto não for rebatida ela será suficiente para retrucar às objeções; tal hipótese não pode ser anulada por uma mente incapaz de compreender esse infinito assunto. Se a bondade de Deus visa ao bem-estar do universo, mais do que a sua felicidade, poderíamos levantar uma outra hipótese, igualmente impossível de ser rebatida, a saber, que Deus soberanamente controla as manifestações do pecado, de modo a produzir os mais importantes benefícios morais.
Quais serão esses benefícios não podemos esperar ser capazes de entender; porém, de um resultado, ao menos, podemos conjecturar. Assim como as perfeições morais de Deus não são grande glória do Seu caráter, por igual modo o Seu governo moral é a glória de Seu esquema universal: assim sendo, pode ter sido agradável diante de Sua mente infinita permitir a entrada do pecado, porquanto isso seria ocasião para mostrar Sua justiça e Seu governo moral.
Talvez concorde melhor com a Sua infinita sabedoria confirmar em santidade os Seus súditos obedientes, não através de alguma necessidade física, mas por meio da influência moral; a demonstração de Sua justiça de Seu governo moral com certeza serve de importantíssimo meio para a concretização desta finalidade.
Pois como poderiam as inteligências – que terão de desenvolver-se continuamente na presença de Seu trono – receber aquelas impressões morais necessárias ao aprimoramento de sua santidade, se para sempre permanecessem ignorando a justiça de Deus, bem como o ódio que Ele vota contra o pecado?
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