terça-feira, 1 de junho de 2010

A Rainha Esther – Parte 3

- A indiferença, a inatividade, a timidez têm sido grandes adversários de muitos cristãos na atualidade. Apesar de terem uma posição privilegiada na sociedade, no local de trabalho, na vizinhança, na escola e na igreja local, muitos se calam, apresentam dificuldades formais e relacionadas com a própria estrutura humana das instituições para nada fazerem em prol do povo e da obra de Deus. Assim como Ester, apresentam justificativas para nada fazer. Ester alegou a Mardoqueu que o rei não a chamava há trinta dias e que se se apresentasse diante do rei sem ser chamada, corria sério risco de morte, o que, considerava ela, não era razoável.

- Assim muitos também têm procedido. Consideram que não podem pôr em risco a posição que têm, posição que, afinal de contas, é resultado de uma bênção divina nas suas vidas. Esquecem-se, porém, que não estão ali para manterem esta posição, para serem beneficiários dela, mas para ali realizar a obra de Deus. Cada um de nós é membro do corpo de Cristo e estamos neste mundo para fazer a vontade de Deus. Não há qualquer sentido em nossas vidas quando pensamos em Cristo única e exclusivamente para satisfação de nossos interesses ou para as coisas desta vida. Se assim procedemos, seremos os mais miseráveis de todos os homens (1 Co 15.19).

- Quantos, nos dias em que vivemos, agarram-se às coisas desta vida, agem tão somente para manter e conservar as suas posições, o seu "status" na sociedade, deixando de se comprometer com a obra do Senhor, nem sequer se importando com o que se passa em termos de reino de Deus e sua justiça. Correm apenas atrás de comida, bebida e vestido, conforto e comodidade, como qualquer gentio (Mt 6.32). Amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo.12.43) e o resultado disto é que destinados estão à perdição eterna, pois quem não confessa o Senhor, também não terá a Sua confissão naquele dia (Mt 10.32,33; 1 Jo 2.23).

- Ester apresentou a justificativa mais plausível que alguém pode apresentar, qual seja, a sua própria vida. Não seria irrazoável exigir-se de Ester que pusesse a sua vida em risco? Como exigir dela, que nunca declarara sua nacionalidade nem sua parentela, quando isto lhe poderia ser vantajoso, fazê-lo neste instante em que havia condenação à morte para todos os judeus? Não teria ela sido colocada no trono precisamente para manter a nação judia viva, por meio de seus descendentes?

- Todas estas justificativas, porém, eram apenas subterfúgios, formas de se escapar ao dever que se exige de quem pertence ao povo de Deus, pois o sentimento que deve haver no servo de Deus é o do comprometimento prioritário com a obra do Senhor e com o Seu povo. Mardoqueu fez ver a Ester que, se ela não se empenhasse em lutar pela sobrevivência do Seu povo e pela continuidade da promessa divina sobre Israel e sobre a humanidade, salvação viria de outra parte, pois Deus era fiel, mas a indiferença, a omissão, a timidez da rainha não ficariam sem o devido castigo (Et 4.13,14).

- Nos dias em que vivemos, não é diferente. Se não nos dispusermos a fazer a obra de Deus, a nos comprometermos com a pregação do Evangelho e a salvação das almas, por causa das posições que tenhamos nesta vida debaixo do sol, nossa omissão não deixará de ser levada em conta pelo Senhor. Não existe neutralidade na dimensão espiritual: ou servimos a Deus, ou não O servimos. Ou ajuntamos com o Senhor, ou espalhamos (Mt 12.30; Lc 11.23). Nem mesmo a preservação de nossa vida é empecilho para servirmos a Deus. O apóstolo Paulo foi claro ao afirmar: "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" (At 20.24). O verdadeiro e genuíno servo do Senhor vive o que foi dito pelo mesmo apóstolo: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho" (Fp1.21). Como disse o Senhor: "… qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará" (Mc 8.35).

- Ester, uma vez mais, foi obediente e, na obediência está o segredo da vitória. Abandonou o seu indiferentismo, pediu a intercessão dos judeus e iniciou três dias de oração e jejum, decidida a arriscar a sua vida a fim de obter a salvação do seu povo (Et 4.16). Vemos aqui algumas lições importantes que nos dá a rainha dos persas. A primeira lição é de que se deve, sempre, ouvir os conselhos dos servos de Deus, deve-se sempre ouvir a repreensão daqueles que nos querem bem. "Ouve o conselho e recebe a correção, para que sejas sábio nos teus últimos dias" (Pv 19.20). Como é bom mudarmos nossas atitudes, conformando-as à Palavra do Senhor.

- A segunda lição que Ester nos dá é a de pedir a intercessão do povo de Deus. Devemos compartilhar com o povo do Senhor as nossas necessidades (Rm.12.13). Não vivemos sozinhos sobre a face da Terra e devemos pedir a ajuda dos irmãos em Cristo, dos verdadeiros irmãos, daqueles que são santos, vivem separados do pecado, para que nos ajudem em oração. Esta é uma das tarefas da igreja local: orar uns pelos outros, ajudar uns aos outros (Tg 5.16; Is 41.6).

- A terceira lição que Ester nos dá é a de não só pedir a intercessão do povo de Deus, mas de ela própria, juntamente com suas moças, orar e jejuar antes de entrar na presença do rei. Não basta pedirmos oração, é preciso que também oremos. Como são numerosos os crentes que apenas pedem oração, fazem questão de escrever seus pedidos de oração para serem lidos nas reuniões, põem suas necessidades nos "cadernos de oração", mas eles próprios não oram. São os conhecidos "crentes de carona", porque vivem na carona das orações intercessórias dos outros. Esquecem-se, porém, que ninguém levará outrem de carona ao ultrapassar os portões celestiais…

- A quarta lição que nos dá Ester é a de que era uma pessoa que, com seu testemunho, havia levado os seus a servirem a Deus. As suas moças, apesar de serem gentias, haviam se convertido a Deus, caso contrário não orariam nem jejuariam com Ester. Ester mantinha um bom testemunho e seu testemunho havia levado os que a cercavam, as suas moças, a serem, também, fiéis a Deus. Com seu exemplo, Ester ganhava almas para o reino do Senhor. O que o nosso exemplo tem gerado em termos espirituais?

- Após esta preparação espiritual, Ester vestiu-se de vestidos reais, pôs-se no pátio interior da casa do rei, em frente ao seu aposento(Et5.1). Embora soubesse da importância e prioridade da preparação espiritual, por meio de jejum e oração, Ester não descuidou dos aspectos materiais da questão. Para se apresentar diante do rei, deveria estar bem vestida, realçando a sua beleza natural e se mostrando agradável. Não iria vestir-se de saco, apesar da situação em que estava. Não iria, também, apresentar-se com semblante caído, ainda que tivesse ficado três dias em jejum e oração. Tinha de ter aparência alegre, a fim de alcançar graça aos olhos de Assuero, para que fosse possível a salvação do seu povo.

- Alguns até oram e jejuam, mas não fazem a sua parte na luta contra o mal e contra as adversidades da vida. Esquecem-se de que Deus nos quer ver parceiros nas Suas realizações e que, mesmo não precisando de nós, pelo Seu grande amor faz com que nos tornemos participantes das Suas obras. Assim, embora pudesse dos altos céus pregar o Evangelho, deixou esta tarefa para a Igreja. Embora pudesse ressuscitar Lázaro sem que a pedra fosse removida, mandou que os homens que ali estavam a removessem. Estamos fazendo a nossa parte?

- Assuero não resistiu a Ester e apontou a ela o cetro de ouro, garantindo-lhe a vida. Ester, mulher prudente, quando recebeu a oferta de até metade do reino, nada pediu, a não ser a presença do rei e de Hamã em um banquete. Ester não foi precipitada, mas, em consagração, sabia que deveria conduzir-se com cuidado e discrição, para obter a bênção. O momento era de iminente destruição, mas apressar-se, afobar-se nunca foi uma conduta que caracterizasse o servo de Deus, que, como seu Senhor, deve ser paciente e longânimo. Ester convidou o rei e Hamã para o banquete e o rei prontamente aceitou o convite.

- Observemos, a propósito, a extrema cautela de Ester, tratando o rei com toda a reverência que lhe era devida, mantendo-se na sua posição de rainha, num país onde havia sido decretado que todo homem era senhor em sua casa (Et1.22). Mesmo tendo sido apontado o cetro de ouro para si e oferecida metade do reino, Ester não deixou sua posição, mostrando a consciência de que a autoridade era do rei e que tudo era questão de concessão e de ter graça, ou seja, favor imerecido diante de Assuero (Et5.8).

- Assuero aceitou o convite e convocou Hamã para que estivesse presente. A arrogância de Hamã, então, atingiu o seu máximo degrau. Convidado que fora pela rainha, achou ser o mais importante de todos os homens sobre a face da Terra. Ninguém haveria de compartilhar a intimidade da rainha além do rei senão ele. Hamã envaideceu-se ainda mais, mas, como todo homem maligno, continuava a ter ódio de Mardoqueu, o porteiro do rei que vestido de saco chorava a própria desgraça e a de seu povo. Vemos, assim, como o orgulho cega as pessoas: Hamã tinha tudo, mas era um insatisfeito por causa do ódio que tinha a Mardoqueu. Que miséria a do homem sem Deus e sem salvação!

- Ester dá, então, o banquete, mas, dentro de sua prudência e cautela, nada revela ao rei na primeira noite. Apenas serve a ele e a Hamã com toda a presteza e pede para que tornem no outro dia. Ao agir assim, Ester estava sendo dirigida pelo Espírito de Deus, visto que, no dia seguinte, Deus providenciaria a devida honra a Mardoqueu diante de Hamã.

- Há, aliás, um nítido contraste entre a prudência e cautela de Ester e a precipitação de Hamã. No dia seguinte ao do banquete, quando Hamã se apresentou diante do rei, ao ser interpelado sobre o que se deveria fazer a cuja honra o rei se agradava, Hamã, que, no seu orgulho e presunção, a ninguém enxergava senão a si mesmo, descreveu uma série de honrarias, achando que as teria. Para sua surpresa, tudo quanto planejou e intentou foi destinado para Mardoqueu, tendo o próprio Hamã tendo de realizá-lo. Assim é a vida: aquele que tenta prejudicar o fiel, acabará por tudo fazer para a exaltação do servo do Senhor.

- No segundo banquete, então, Ester denuncia Hamã, sabendo que era o momento propício para tal. Certamente, vira a forca que fora construída por Hamã com o objetivo de matar Mardoqueu e tivera conhecimento de como Mardoqueu fora exaltado naquele dia. Diante de tais fatos, sabia que chegara o momento para que intercedesse pelo seu povo e assim se fez. Denunciado, Hamã se desesperou e acabou sendo enforcado na própria forca que mandara fazer e Mardoqueu foi posto em seu lugar. Como se não bastasse, Assuero, que não podia revogar a sua lei, permitiu que os inimigos dos judeus fossem destruídos antes da data marcada para a destruição do povo judeu e o povo judeu acabou sendo exaltado no meio do Império Persa, nunca mais correndo qualquer risco sob este domínio. O povo de Deus fora preservado e, com ele, o plano divino para a salvação do homem, pois, graças a esta preservação, menos de 500 anos depois nasceria o Cristo para tirar o pecado do mundo.

- Para celebração desta grande libertação do povo, instituiu-se, então, a festa de Purim (Et.9.20-32), que é comemorada pelos judeus até a presente data, nos dias catorze e quinze do mês de Adar, mês que corresponde aos nossos meses de fevereiro ou março. Ester tornara-se, assim, um instrumento divino para a salvação de seu povo, um instrumento divino para a salvação da humanidade, pois a preservação do povo judeu representou a preservação da "posteridade de Abraão" que tornaria benditas todas as famílias da Terra.

IV – O QUE APRENDEMOS COM ESTER

- Dentro da linha que tomamos desde o início do trimestre, diante do objetivo estabelecido de aprimorarmos nosso caráter através do estudo das personagens bíblicas, vejamos o que podemos aprender com Ester para melhorarmos nossos caminhos.

- A primeira lição que Ester nos dá é a da obediência aos pais. O primeiro mandamento com promessa foi integralmente cumprido por Ester. Por ter tido uma excelente educação com Mardoqueu, Ester pôde ser obediente não só a seu pai de criação, mas a Hegai e a Assuero, o que foi fundamental para que alcançasse a salvação de seu povo e da sua própria vida.

- Como vimos supra, os dias em que vivemos são dias de desobediência a pais e mães, dias em que se prega abertamente a "independência" para crianças, adolescentes e jovens, dias em que o desprezo para com os pais é a regra geral. No entanto, somente por meio da obediência aos pais teremos uma vida quieta e sossegada, uma vida abençoada por Deus.

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