terça-feira, 1 de junho de 2010

A Rainha Esther - Final

- A segunda lição que Ester nos dá é que, nesta obediência e submissão, há o altruísmo, que é a virtude sobrelevada pelo ilustre comentarista nesta lição. Somente obedecemos ao outro quando o consideramos, quando o levamos em conta, quando reconhecemos a sua importância. Ester, mesmo quando era apenas uma órfã cativa, mas também quando se tornou na rainha da Pérsia, sempre considerou os outros superiores a si mesmo (Fp 2.3), guardando o seu lugar, mas não se fechando em si mesma, buscando sempre o bem-estar dos outros.

- O verdadeiro crente é altruísta, pois tem o mesmo sentimento de Cristo Jesus, "…que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz (Fp 2.6-8). Negar-se a si mesmo e viver em função do outro é o primeiro requisito para servirmos a Cristo (Mc 8.34; Lc 9.23). Já foi dito supra que quem quiser viver para si, acabará perdendo a própria vida. Ester dá-nos um exemplo: alcançou uma posição inimaginável não só na sociedade da sua época, mas diante de Deus, única e exclusivamente porque não viveu em função de si própria, mas em função dos outros. O amor divino é demonstrado em nós na medida em que não buscamos apenas os nossos interesses (1 Co 13.5).

OBS: Lembremo-nos aqui das palavras do rabino judeu Hilel, que viveu algumas décadas antes de Cristo e que, em seu pensamento, sintetiza o espírito judaico a respeito do altruísmo, que foi totalmente incorporado pelo Senhor: "Se não for por mim, quem será por mim? Mas se eu for só por mim, o que sou eu? E se não agora, quando?" (Pirke Avot 1.14).

- A terceira lição dada por Ester é a de que sempre buscou manter um testemunho que a fizesse diferente e distinta no ambiente em que se encontrava. Ester chamava atenção por sua beleza, mas era o seu comportamento que a fazia achar graça seja aos olhos do guarda das mulheres do rei, seja aos olhos do rei, seja aos olhos de suas moças. Ester tinha um testemunho exemplar e isto a tornava agradável e alvo da graça e da benevolência das pessoas. O cristão deve ser alguém que seja agradável, ou seja, que faça a diferença pelo seu comportamento distinto dos demais nos ambientes de que faz parte.

- Sejamos bem claros. Ester não se sobressaía porque procurava agradar a todos, vivendo como eles, pois não estamos aqui para agradar aos homens, mas, sim, para agradar a Deus (Gl 1.10). Ocorre que, quando agradamos a Deus, tornamo-nos agradáveis aos homens, faz bem aos homens estar na nossa companhia, ainda que, por causa disso, venhamos a sofrer perseguições e injúrias. Nossa presença sempre traz o bem e a paz aos que nos cercam e era isto que fazia com que as pessoas favorecessem Ester onde quer que ela estivesse.

- Uma prova de que Ester era uma pessoa cativante, que atraía as pessoas pelo seu modo de viver está no comportamento do próprio Mardoqueu que, embora tivesse mandado a Ester que não revelasse nem sua nacionalidade, nem sua parentela, não cessava de acompanhar o cotidiano de sua filha de criação, sempre buscando saber como ela estava (Et 2.11,19). O que significa a nossa presença para aqueles que nos cercam?

- A quarta lição que Ester nos dá é a relevância do comportamento de um servo de Deus. A escolha de Ester para rainha, como vimos, trouxe alegria e paz para o reino. Ester era um instrumento de bênçãos para todos quantos estavam sob a sua área de influência, ou, podemos mesmo dizer, era uma bênção para todos eles. Como filhos de Deus, temos a mesma promessa que Deus deu a Abraão: "tu serás uma bênção" (Gn 12.2 "in fine"). Temos sido uma bênção? Os crentes de hoje em dia querem ser ricamente abençoados, gostam de dizer que lhe foram prometidas todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (embora utilizem, quase sempre, este versículo na sua incessante e incansável busca por bênçãos materiais…), mas se esquecem que o objetivo de Cristo é que eles mesmos sejam uma bênção para os que estão à sua volta. Sal da terra e luz do mundo, assim identifica Jesus os Seus discípulos. Que bênção temos sido para os que estão convivendo conosco debaixo do sol?

- A quinta lição que Ester nos dá é a referente à necessidade de preparação espiritual para que tomemos uma decisão. Antes de ir à presença do rei para pedir por seu povo, Ester jejuou e orou por três dias, pedindo, ainda, a intercessão dos judeus a seu favor. Ester sabia "…que não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12). Verdade é que muitos vêem o diabo em todos os lugares, o que não é correto, mas também é reprovável desprezar a atuação maligna, cada vez mais intensa e freqüente nos dias difíceis que estamos a viver.

- A sexta lição que Ester nos dá é a de que a preparação espiritual é necessária e prioritária, mas não é suficiente. Aquilo que podemos fazer, devemos fazer. Somente Ester poderia vestir os vestidos reais e se fazer graciosa aos olhos do rei. Ela era a rainha e deveria cativar o rei. A sua parte fez e o resultado foi que, com oração, jejum e devida preparação material, Ester alcançou o favor do rei e teve o cetro de ouro apontado para si.

- A propósito, esta situação narrada no livro de Ester tem uma aplicação espiritual direta. Temos nos apresentado com vestes reais diante do Rei dos reis? Temos comparecido convenientemente diante de Deus quando entramos em Sua presença? O escritor aos hebreus diz-nos que, quando nos chegamos a Deus, devemos nos apresentar com verdadeiro coração, inteira certeza de fé, os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpa (Hb10.22). Porventura, são estas as nossas vestes, nós, que somos reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai, lavados que fomos dos nossos pecados pelo sangue de Cristo (Ap 1.5,6)? Ou estamos como o sumo sacerdote Josué, com vestidos sujos (Zc3.3)? Não nos iludamos: somente os que não contaminarem as suas vestes poderão entrar no reino de Deus.

- A sétima lição que Ester nos dá é a de que é preciso ter cautela e prudência, de estarmos sempre na direção do Espírito Santo. Ester, mesmo tendo a oferta de até metade do reino, soube esperar o momento certo para fazer a sua petição, o momento adequado, o momento sinalizado por Deus, depois da exaltação de Mardoqueu e da construção da forca por ordem de Hamã. "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Saibamos esperar no Senhor de modo paciente (Sl.40.1).

- Como ter prudência? Como saber qual é o tempo de Deus? A prudência, diz-nos a Bíblia, é a "ciência do Santo" (Pv 9.10), habita sempre com a Sabedoria (Pv 8.12), sabedoria esta que é o Senhor Jesus, o qual nos faz abundar em toda a prudência (Ef 1.8). Vemos, pois, que, para ter prudência, para saber qual é o tempo de Deus, precisamos habitar com Jesus, ter comunhão com Ele, conhecê-lO: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito (Jo 15.7). O homem prudente é aquele que ouve e pratica as palavras do Senhor Jesus (Mt 7.24).

V – O QUE APRENDEMOS A NÃO FAZER COM ESTER

- Apesar de sua linda biografia, Ester, como todo ser humano, teve suas falhas e nelas, também, devemos aprender, como contra-exemplo, a fim de que não venhamos a praticar os mesmos erros.

- A primeira lição que aprendemos com Ester como contra-exemplo é a de que não podemos ser indiferentes ao que nos ocorre. Mardoqueu, ao saber do decreto do rei, rasgou os seus vestidos, clamou no meio da cidade e se vestiu de saco. Todos os judeus começaram a jejuar e orar bem como a lamentar o acontecido, mas Ester se manteve impassível, indiferente. A indiferença com a dor dos outros, notadamente do povo de Deus, é um grande mal que tem de ser evitado a todo custo. Jesus sempre teve compaixão do próximo(Mt 9.36; 14.14; 20.34; Mc 1.41; 6.34; 8.2; Lc 7.13) e, mesmo rejeitado pelo povo, chorou sobre Jerusalém (Lc 19.41), demonstrando toda a sua tristeza pelo mal que os próprios judeus chamavam para si.

- O verdadeiro e genuíno cristão, assim como o Senhor, deve ter a mesma compaixão de Deus (Rm 12.1), não sendo indiferente ao sofrimento, à dor do próximo, acudindo-lhe em todas as suas necessidades. Agir como o samaritano da parábola, como o pai do filho pródigo, este é o ensino de Jesus para todos nós.

- A segunda lição que Ester nos dá do que não fazer é o instinto de autopreservação, é a busca da salvaguarda da própria vida, o que podemos muito bem denominar aqui de covardia, de timidez. Quem busca salvar a sua vida e, para tanto, não faz a obra de Deus, não declara que é filho de Deus, não se envolve com as tarefas da Igreja está perdendo a sua vida. Ester correu risco de ela mesma vir a perder a sua vida, buscando guardá-la, mas, a tempo, seguiu o sábio conselho de Mardoqueu e, ao pôr a sua vida em risco por amor ao seu povo, ao povo de Deus, alcançou não só a sua sobrevivência, mas de todo o povo. Assim devemos também proceder: buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, pois tudo o mais nos será acrescentado (Mt 6.33). Os tímidos ficarão fora do reino de Deus (Ap 21.8).

- A terceira lição de contra-exemplo que nos dá Ester, que está bem relacionada com a do instinto de preservação, é a do isolamento do meio do povo de Deus. Apesar de sua posição como rainha, Ester não poderia ter se isolado tanto do seu povo. Verdade que não poderia ter um relacionamento explícito, já que não declarara sua nacionalidade nem a sua parentela, mas era necessário ter se posicionado quando saiu o decreto do rei, antes que Mardoqueu a obrigasse a tanto. Tomar posições quando surgirem circunstâncias que nos obriguem a tanto, confessar publicamente o nome de Jesus é uma necessidade imperiosa a todos quantos se digam salvos na pessoa de Cristo. Mesmo que sejamos levados diante de autoridades, temos de confessar o nome de Jesus. Quem não O confessa, nega-O e, por isso, será também negado por Cristo diante do Pai (Mt 10.33). Lembre-se disto toda vez que estiver diante de uma circunstância em que precisemos confessar o nome do Senhor

http://www.ensinodominical.com.br/ester-uma-rainha-altruista-1/

Nenhum comentário:

Postar um comentário