sábado, 25 de abril de 2009
" OS DEZ MANDAMENTOS"
Recebi um email, anônimo, de alguém que pediu que fizesse um comentário teológico e filosófico dos dez mandamentos. Então vamos tentar....
"Os dez mandamentos: “Tuas palavras são uma lâmpada no meu caminho”
Caminho para a justiça, a liberdade e a fraternidade."
Uma Palavra
Os dez mandamentos ou Decálogo (Deca-logo = 10 palavras) são uma resposta de Deus aos clamores do povo as orientações de Javé para organizar o mundo e a vida do povo, conforme o Projeto de Deus. Por isso estas Palavras de Deus são uma Lâmpada para o caminho e nos ajudam a ver e a julgar a história, os acontecimentos que estamos vivendo hoje em nossa grande pátria, a América Latina. Somos um povo oprimido porque sofremos a opressão daqueles que violam os mandamentos de Deus e porque esperamos como resposta a palavra Libertadora do Deus em quem pomos nossa confiança.
Os dez mandamentos são como um grande quadro pendurado na parede da vida. O prego que os sustenta são as Palavras de Deus: “Eu sou Javé teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da escravidão”. Com estas palavras, muitas vezes esquecidas por nós, Deus declara a autoridade e o objetivo dos dez mandamentos.
A autoridade. Tirando o povo da “casa da escravidão, Deus conquistou um título de propriedade sobre o povo, Ex 19.5-6. Por isso ele tem o direito de revelar-lhe a sua vontade, expressa nos dez mandamentos.
O objetivo. Fazer alguém sair da “casa da escravidão” para a liberdade não é algo que se faça de um dia para o outro. É um longo processo que exige sábia orientação. A orientação (TORÄ, em hebraico) é fornecida por Deus nos dez mandamentos. São dez pistas que ajudavam o povo a continuar no caminho da liberdade, da fraternidade e da justiça; são a negação da escravidão. A observância fiel dos dez mandamentos faz com que o povo se torne a Boa Nova para os oprimidos e amostra concreta daquilo que Deus quer para todos. O objetivo último foi revelado por Jesus: ajudar o povo para que um dia chegue à prática perfeita do amor a Deus e ao próximo, Mt 22.40;Gl 5.14; Rm 13.8-10.
Os dez mandamentos não foram dados a crianças, mas a adultos. Não são para amedrontar os pequenos, mas para educar os grandes nas coisas de Deus e da vida. Não são para limitar a liberdade, e sim para defendê-la e aprofundá-la. Não foram dirigidos, em primeiro lugar, aos indivíduos, mas ao povo. Não têm como objetivo melhorar apenas o comportamento individual. Isto é bom, mas não é suficiente. Orientam também, e sobretudo, para uma nova organização do povo. Não apenas os indivíduos, mas também o povo, enquanto povo, deve observar os mandamentos. Há pessoas consideradas boas e honestas, que não matam nem roubam, mas que, sem problema algum de consciência, colaboram na manutenção de um sistema que hoje, a cada ano, mata de fome centenas de milhares de pessoas; que legitima o roubo monumental de bilhões de dólares através da dívida externa; rebaixa a mulher, gera a cobiça, juram falso, expolia o operário etc. Será que estas pessoas observam os dez mandamentos? Como enfrentar e resolver esta contradição que envolve a vida de muitos de nós ?
Os mandamentos são a resposta de Deus ao clamor do povo oprimido. Por meio deles, Deus ataca a causa que provoca o clamor. A fiel observância dos mandamentos destrói esta causa e impede a volta do povo à casa da escravidão. Por isso, em cada mandamento convém perguntar: Qual é o clamor que está por trás dele? Como este mandamento combate a causa que produz o clamor?
No tempo de Jesus, havia alguns fariseus que ensinavam os mandamentos sem observá-los, Mt 23.4; Mc 7.8-13; Jo 7.19. Só repetiam a letra, mas matavam o espírito da lei, Lc 11.39-44; 2Co 33.6. Esqueciam que a lei tinha sido dada para libertar e educar, Gl 3.21, e a transformaram em instrumento de opressão, Lc 11.46;Mt 11.28: Jesus criticou a interpretação dos fariseus e dos doutores ,Mt 5.20;26.1-36 e trouxe uma nova explicação, Mt 5.17-48. Por isso, para entender todo o sentido dos dez mandamentos, é necessário ver também, em cada um deles, a maneira como Jesus os observou e explicou.
Os três primeiros mandamentos definem como deve ser o relacionamento do povo com Deus: 1) Só Javé é Deus! Nada de imagens de deuses que legitimem o sistema opressor dos reis do Faraó.2) Nunca se deve usar o Nome de Deus, para coisas vãs, isto é, nunca se deve usar o Nome que é libertador, para legitimar a opressão. 3) Observar o Sábado e desta maneira ter presente que o objetivo do trabalho não é o lucro. É o repouso e não o negócio! Nestes três mandamentos, está a raiz da novidade. É uma nova experiência de Deus, do Deus que liberta. Experiência de Deus que transforma tudo e produz uma nova organização da vida. Os outros mandamentos, 4-10, mostram como há de ser esta nova maneira de viver. Neles a fé em Deus e a organização fraterna são como os dois lados da mesma moeda. Não podem ser separados. Jesus resume tudo isto dizendo que o amor a Deus é igual ao amor ao próximo, Mt 22.40. Na verdade eles revelam os grandes valores da vida humana. Defendem os direitos e os deveres básicos das pessoas, dos grupos, dos povos.
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